Escrevo-te com a sensação da erosão das palavras... aquela que as transforma em meros ecos de simplicidade e que as enclausura no cárcere do palpável. Escrevo-te com a sensação de que não direi tudo (nunca direi), pois o tudo não se escreve só com a realidade daquilo que podemos dizer. O tudo que sei que sabes, que está em ti, como está em mim, ligar-nos-á eternamente, sem que as palavras interrompam o seu silencioso canto. Atrevo-me a dar-te palavras, porque já te dei tudo aquilo que elas possam dizer e, que, no entanto, jamais poderá ser escrito.
Chegaste à minha vida com a graciosidade de quem chega para ficar, sem (talvez) o saberes. Eu entrei na tua sem saber que batia à porta de um renascer das cinzas. Ficámos - cada um de nós com as suas feridas -, procurando no outro aquilo em que deixáramos de acreditar (ou talvez aquilo que não imagináramos existir). E, na procura, veio a nudez. Despi as roupas que encobriam as lágrimas, as tatuagens que encombriam as cicatrizes, o sol que escondia a lua, com a sua sombra. Levei-te à minha mais profunda vertigem... e eu sei que, nessa viagem, também tu revelaste aquilo que se escondia por detrás dos olhos infantis (esses, que tantas vezes me fazem embarcar no comboio da infância...) daquele menino que fazia música e coleccionava soldadinhos de chumbo... O mesmo menino, a quem hoje escrevo, cresceu dentro de mim e contou-me as mais puras verdades do mundo. Aprendi com ele aquilo que a vida, por si, não me ensinara e que, por mim, não havia aprendido... Aos meus olhos, o mundo começara a redesenhar-se com outras cores, outras formas, outras verdades... Como? Interrogo-me, ainda hoje, como o "menino", o "principezinho", que me perscrutava o ser com a profundidade dos seus inocentes olhos, fez girar o mundo à minha volta, num movimento de translação que a Ciência não explicará... Recordo-me que o conheci a indagar as verdades do Mundo através de números e fórmulas (que jamais estarão acessíveis à minha limitada compreensão...)... e hoje vejo-o a querer voar para um lugar qualquer, que a inteligível matemática desmentiria... E o inflexível ateu, que um dia rezou, em quem hoje encontro uma espiritualidade que a religiosidade alguma entenderá. Recordo o menino, cheio de verdades irrefutáveis, da inteligente e indesmentível lógica aplicada à vida, por quem me apaixonei irremediavelmente (sendo tão diferente de mim) e hoje contemplo o homem, que tolera o diferente (mantendo a coerência das suas verdades) e que chora comigo o amor que fazemos, que amarei eternamente. O homem, que guarda os seus olhos infantis e doces, a quem hoje escrevo, trouxe a alegria da música à minha surda existência. Abraças-me música, quando me encosto a ti... beijas-me eternidade, quando me mostras, no teu sorriso, a mais importante das verdades do mundo... e eu tomarei conta de ti, mesmo à distância de quem correrá todas as vielas do mundo, sabendo que todas vão dar a ti...
... Porque te amo.
Há muitos vocábulos para definir os vários graus de enamoramento. Passados os estados da "atracção", da "adoração" e da "paixão" (cujas expressões características são, respectivamente, "sinto-me atraído por ti", "adoro-te" e "estou apaixonado por ti"...), chega-se ao momento em que estamos "em amor" ou, como diriam os nossos compatriotas ingleses, "in love"...
Quando estamos "em amor", as expressões que definem os graus passam a ser relacionadas com a palavra... "Amor"! Por exemplo, o mais óbvio será "Amo-te":
Tatiana, eu Amo-te!
Ora... "Amo-te" é um sentimento bastante positivo, mesmo quando não se é correspondido (porque a acção "amar" é positiva, o que é negativo é a reacção "não ser amado"), daí que não faça qualquer sentido ter um sinal de subtracção no meio. Substitua-se, então, o - por um +.
Tatiana, eu Amo+te!
+ já é bom. Mas... E se eu amar ainda + que o +? Inclina-se um dos + a 45º, sobrepõem-se e fica um *, que é ao mesmo tempo um sinal de multiplicação e de beijinhos. Além disso, para números superiores a 2, o produto de um número por si próprio é sempre superior à sua soma - logo, o * é "bué da bom" e o + é "podre"...
Tatiana, eu Amo*te!
Mas o Amor não é - ou não deve ser - um sentimento de subtracção, nem se deve basear apenas na adição e, por agora, não se pensa ainda muito seriamente em multiplicação... O Amor é um sentimento potente, que nos eleva ao céu... Daí que devamos aplicar a potenciação e elevar o Amor ao seu expoente máximo: tu!
Tatiana, eu Amo^te!
And I mean it! (private joke...) No entanto, já lá cantava a Rita Lee no tempo em que ainda não sonhava com rugas, "Amor sem sexo é amizade", por isso pode-se começar a apimentar um bocadinho as coisas e deixar o amor platónico passando ao lado físico da questão:
Tatiana, eu @mo^te!
E é bem verdade. Estou louco de amor! Por falar em louco de amor, passemos às expressões "... de amor".
Louco de amor... Diz-se que alguém está louco de amor quando a sua cabeça não tem lugar para mais nada senão para AQUELA pessoa, quando qualquer "T" o faz pensar na pessoa que ama, quando quaisquer olhos azuis com que se cruze na rua o fazem chorar de saudade, quando se embrulha a prenda de aniversário daquela pessoa em 7 caixas porque esse é o número de ambos...
A seguir, morre-se de amor... Diz-se que alguém está a morrer de amor quando adquire uma mobilidade estranha - arrasta-se longe da pessoa amada e, quando está ao lado dela, voa; diz-se que alguém está a morrer de amor quando escreve uma música com a letra que a pessoa amada escreveu, mesmo que essa letra tenha sido escrita para outra pessoa; diz-se que alguém está a morrer de amor quando percebe que, ainda que com razões que para muitos outros pudessem parecer as mais válidas do mundo, cometeu o maior erro de toda a sua vida e no dia seguinte de manhã está em Portimão, à porta da pessoa que ama, para lhe pedir desculpa com lágrimas nos olhos; diz-se que alguém está a morrer de amor se é capaz de morrer por amor.
A morte não é o fim. Existe mais depois de se morrer de amor: já no além (porque o Amor não pode ser deste mundo...), há um estado transcendental. O estado de
Parvo de amor.
Está-se parvo de amor quando a nossa idade mental recua até ao momento em que nos babávamos ao comer bolacha maria com banana e sumo de laranja. É o estado em que se acha que o outro é igual a nós e começamos a tratá-lo por "bebé" e "baby" e "minha querida linda", e fazemos perguntas retóricas como "Quem é a coisa mais linda, quem é, quem é, quem é, quem é?", "Sabes quem é que gosta muito de ti, sabes?, sabes?, sabes???" ou "És muito linda, muito muito muito linda, não és, meu amorzinho?", todas elas proferidas na voz típica de uma criança com 3 anos. É o estado em que se perde a noção do sítio onde se está e estas perguntas deixam de ser feitas exclusivamente no sofá ou entre os lençóis e começam também a ser proferidas na estação de metro, nos semáforos ou no bar da faculdade. Estar parvo de amor é também rir aparvalhadamente pela mais insignificante coisa e rematar com um "@mo^te tanto..." logo a seguir, é imitar a forma de descer as escadas do outro, é fazer corridas a subir as escadarias do metro, é repetir tudo o que o outro diz até ao ponto de saturação e dar-lhe um beijinho a seguir, é cantarolar "Olha o Rodrigo Leãão..." com uma melodia estúpida e irritante durante imenso tempo, é reclamar com os velhos que olham para o decote da nossa namorada, é fingir estarmos na cozinha quando estamos abraçados à mulher que amamos... Estar parvo de amor também é, em vez de dar uso ao passe, apanhar um táxi para casa dela porque se chega 5 minutos mais cedo e cada momento é precioso, é preocupar-se com a saúde do outro e impôr um número máximo de cigarros por noite, é ter gosto em se levantar a meio da noite para vir falar no MSN com alguém que tem saudades nossas, é arrastar essa pessoa para o Bairro Alto às três da tarde para lhe fazer uma surpresa num museu, é fingir que se vai à casa de banho para lhe ir comprar uma flor, é encher-lhe a caixa do correio com cartas quando se vai de férias, é raptar-me a mim próprio e exigir 10 000 beijos de resgate...
Estar parvo de amor é quando se está desesperadamente apaixonado e desesperadamente sem ideias para surpresas e se escreve, desesperadamente, um post parvo como este.
Tatiana, estou parvo de amor por ti...
É extremamente aprazível viver neste país... NOT! E a razão para dizer isto é porque, muito sinceramente, tenho vergonha dos senhores lá de cima, aqueles que se recusaram a receber o Dalai Lama. O Big Boss disse, em jeito de desculpa, que tem um grande apreço pelo líder espiritual que é o Dalai Lama, mas que não entrou nenhum pedido de audiência na Presidência da República. É verdade, o Sr. Lama não tinha nenhum encontro oficial agendado com o Sr. Silva, mas podia dar-se um jeitinho... Enquanto o Presidente Silva teve um bom jogo de cintura, já o ministro Luís Amado não foi tão hábil com as palavras (como começa a ser hábito com os ministros deste governo) e disse que o Dalai Lama não seria recebido pelo governo "pelas razões que são conhecidas". Referia-se, obviamente, ao facto de Portugal manter desde 1979 relações diplomáticas e comerciais com a República Popular da China, país que anexou o Tibete em 1959, província esta da qual o Dalai Lama é o líder espiritual. O Dalai Lama tem lutado pela independência do Tibete de uma forma pacífica e promovido o valor humano e a harmonia religiosa, tendo por isso ganho o Prémio Nobel da Paz em 1989.
Assim, o Dalai Lama encontrou-se apenas com os deputados e com o Presidente da AR, Jaime Gama, que, ao contrário dos seus amigos ministros, desta vez portou-se bem e não disse coisas que não devia - refiro-me ao episódio no Museu Maçónico, em 2005, quando Jaime Gama pôs o então Grão-Mestre do GOL numa posição delicada ao revelar que este lhe tinha confidenciado que era o primeiro Presidente da AR socialista não-maçon. Perdeu uma boa oportunidade para estar calado...
Agora... Vergonha, vergonha... Vergonha é o PR recusar-se a receber o líder espiritual budista mas ter a lata de, depois, vir falar sobre o Scolari. Mandar bitaites sobre futebol ou conceder uma audiência ao Nobel da Paz... Hmm... Qual deles?
Tediébe! Moçe, nã vés qu'o últime post néste blog foi há já quase 2 méses?! Pelo facto, peço desculpa. Começam as férias, há tempo a mais e uma pessoa começa a ficar mole e sem vontade de fazer nada - nem sequer escrever um novo post.
Muitos de vocês estarão a pensar neste momento "Punhefra dum cabrão! Ma qu'jête... Ném no blog escréve??", e dou-vos toda a razão. Mas as minhas férias foram relativamente movimentadas... Como estamos todos entre amigos, eu conto como foram...
Em Agosto fui passar uma semana a Viana do Castelo com a minha família. Voltado das terras do Norte, esperei 5 dias e parti, novamente, para o Norte (S. Pedro do Sul e Guimarães) num intrarail com a Witch. Para os que não sabem, e penso que sejam poucos, eu e a Tatiana namoramos há... hmmm... 7 meses e 11 dias. Mas acho que já se tinham apercebido disso... (Anyway, não ia deixar passar a oportunidade de me pavonear acerca do facto de eu namorar com uma pessoa como a Witch! =))))))) Acabado o intrarail, voltámos a Lisboa por 2 dias e seguimos logo para os Algarves, terra da Witch, para passarmos 3 dias e, a seguir, voltarmos para Lisboa.
Agora cá estou eu, a Tatiana está de volta à terra-mãe e volta para a capital dentro em breve... E este é o post de abertura de um novo ano bloguístico! =)
Um bom ano lectivo to everyone!