Este Blog foi um programa de rádio The Steadfast Tin Soldier: Parvo de amor

quarta-feira, setembro 19, 2007

 

Parvo de amor

Há muitos vocábulos para definir os vários graus de enamoramento. Passados os estados da "atracção", da "adoração" e da "paixão" (cujas expressões características são, respectivamente, "sinto-me atraído por ti", "adoro-te" e "estou apaixonado por ti"...), chega-se ao momento em que estamos "em amor" ou, como diriam os nossos compatriotas ingleses, "in love"...
Quando estamos "em amor", as expressões que definem os graus passam a ser relacionadas com a palavra... "Amor"! Por exemplo, o mais óbvio será "Amo-te":
Tatiana, eu Amo-te!
Ora... "Amo-te" é um sentimento bastante positivo, mesmo quando não se é correspondido (porque a acção "amar" é positiva, o que é negativo é a reacção "não ser amado"), daí que não faça qualquer sentido ter um sinal de subtracção no meio. Substitua-se, então, o - por um +.
Tatiana, eu Amo+te!
+ já é bom. Mas... E se eu amar ainda + que o +? Inclina-se um dos + a 45º, sobrepõem-se e fica um *, que é ao mesmo tempo um sinal de multiplicação e de beijinhos. Além disso, para números superiores a 2, o produto de um número por si próprio é sempre superior à sua soma - logo, o * é "bué da bom" e o + é "podre"...
Tatiana, eu Amo*te!
Mas o Amor não é - ou não deve ser - um sentimento de subtracção, nem se deve basear apenas na adição e, por agora, não se pensa ainda muito seriamente em multiplicação... O Amor é um sentimento potente, que nos eleva ao céu... Daí que devamos aplicar a potenciação e elevar o Amor ao seu expoente máximo: tu!
Tatiana, eu Amo^te!
And I mean it! (private joke...) No entanto, já lá cantava a Rita Lee no tempo em que ainda não sonhava com rugas, "Amor sem sexo é amizade", por isso pode-se começar a apimentar um bocadinho as coisas e deixar o amor platónico passando ao lado físico da questão:
Tatiana, eu @mo^te!
E é bem verdade. Estou louco de amor! Por falar em louco de amor, passemos às expressões "... de amor".
Louco de amor... Diz-se que alguém está louco de amor quando a sua cabeça não tem lugar para mais nada senão para AQUELA pessoa, quando qualquer "T" o faz pensar na pessoa que ama, quando quaisquer olhos azuis com que se cruze na rua o fazem chorar de saudade, quando se embrulha a prenda de aniversário daquela pessoa em 7 caixas porque esse é o número de ambos...
A seguir, morre-se de amor... Diz-se que alguém está a morrer de amor quando adquire uma mobilidade estranha - arrasta-se longe da pessoa amada e, quando está ao lado dela, voa; diz-se que alguém está a morrer de amor quando escreve uma música com a letra que a pessoa amada escreveu, mesmo que essa letra tenha sido escrita para outra pessoa; diz-se que alguém está a morrer de amor quando percebe que, ainda que com razões que para muitos outros pudessem parecer as mais válidas do mundo, cometeu o maior erro de toda a sua vida e no dia seguinte de manhã está em Portimão, à porta da pessoa que ama, para lhe pedir desculpa com lágrimas nos olhos; diz-se que alguém está a morrer de amor se é capaz de morrer por amor.
A morte não é o fim. Existe mais depois de se morrer de amor: já no além (porque o Amor não pode ser deste mundo...), há um estado transcendental. O estado de
Parvo de amor.
Está-se parvo de amor quando a nossa idade mental recua até ao momento em que nos babávamos ao comer bolacha maria com banana e sumo de laranja. É o estado em que se acha que o outro é igual a nós e começamos a tratá-lo por "bebé" e "baby" e "minha querida linda", e fazemos perguntas retóricas como "Quem é a coisa mais linda, quem é, quem é, quem é, quem é?", "Sabes quem é que gosta muito de ti, sabes?, sabes?, sabes???" ou "És muito linda, muito muito muito linda, não és, meu amorzinho?", todas elas proferidas na voz típica de uma criança com 3 anos. É o estado em que se perde a noção do sítio onde se está e estas perguntas deixam de ser feitas exclusivamente no sofá ou entre os lençóis e começam também a ser proferidas na estação de metro, nos semáforos ou no bar da faculdade. Estar parvo de amor é também rir aparvalhadamente pela mais insignificante coisa e rematar com um "@mo^te tanto..." logo a seguir, é imitar a forma de descer as escadas do outro, é fazer corridas a subir as escadarias do metro, é repetir tudo o que o outro diz até ao ponto de saturação e dar-lhe um beijinho a seguir, é cantarolar "Olha o Rodrigo Leãão..." com uma melodia estúpida e irritante durante imenso tempo, é reclamar com os velhos que olham para o decote da nossa namorada, é fingir estarmos na cozinha quando estamos abraçados à mulher que amamos... Estar parvo de amor também é, em vez de dar uso ao passe, apanhar um táxi para casa dela porque se chega 5 minutos mais cedo e cada momento é precioso, é preocupar-se com a saúde do outro e impôr um número máximo de cigarros por noite, é ter gosto em se levantar a meio da noite para vir falar no MSN com alguém que tem saudades nossas, é arrastar essa pessoa para o Bairro Alto às três da tarde para lhe fazer uma surpresa num museu, é fingir que se vai à casa de banho para lhe ir comprar uma flor, é encher-lhe a caixa do correio com cartas quando se vai de férias, é raptar-me a mim próprio e exigir 10 000 beijos de resgate...
Estar parvo de amor é quando se está desesperadamente apaixonado e desesperadamente sem ideias para surpresas e se escreve, desesperadamente, um post parvo como este.
Tatiana, estou parvo de amor por ti...

Comments:
Amo*te por cima... (o resto está...er.. por cima...) :) @*@*@*@
 
Desejo que continuem parvos (de amor) por toda a eternidade.
Agora... eu falo assim com o meu cão... "Quem é o meu bebé mais lindo, quem é?" mas isso não conta como exemplo (e não me venham a dizer que ando a ver muita publicidade à Cofidis, lol)
 
Meeeu Deeus, muuito inteligente esse texto, ahaha eu atva pasano por aqui, pq fui faze uma busca no google, naada a ver,e acabei comentando :)
nãão tenho blog nem nada,
soh tenho orkut
pra não ficar totalmente anonima
luisa
 
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