Este Blog foi um programa de rádio The Steadfast Tin Soldier: outubro 2006

terça-feira, outubro 24, 2006

 

Quando um gajo se irrita...

Por muito pacífica que seja uma pessoa, acaba sempre por se irritar com alguma coisa. É que há dias em que um gajo se irrita mesmo... Hoje foi um deles!
Logo de manhã descobri que me esqueci de pôr açúcar no café... Depois de o beber! Logo aí senti uma ligeira comichãozinha: possivelmente irritação...
Cheguei à estação e a porta do comboio parou mesmo à minha frente. Ah, maravilha! Mas a porta abriu-se e saiu uma massa compacta de gente que logo se expandiu por toda a plataforma assim que apanhou uma nesga de espaço, arrastando-me quase dois metros para trás. Entrei no comboio a custo. Isso também me irritou.
Com o metro não tive a mesma sorte: passou mesmo à minha frente. E, "devido a dificuldades técnicas na linha, o próximo comboio poderá demorar mais do que o tempo de espera previsto"... Quando chegou, voltei a entrar numa lata de sardinhas para sair duas estações à frente. Isto sobrecarregou a minha irritação do comboio.
De manhã tudo bem, não fosse o facto de por vezes me sentir ignorado quando falo com as pessoas. Isso irrita-me. Algumas outras coisas irritaram-me também.
Ao almoço descobri que cheguei demasiado tarde e o prato que eu queria já tinha desaparecido. Entre o peixe e a carne, escolhi o melhorzito: o prato de macrobiótica... O tofu estava horrível, e isso irritou-me ainda mais do que não haver o prato que eu queria.
A seguir ao almoço tomei a liberdade de guardar um bocadinho de tempo para me irritar sozinho por não encontrar as pessoas que queria encontrar. Depois fui para a aula sem ter tido tempo livre quase nenhum, o que por si só é ligeiramente irritante.
Três horas depois estava de saída. O autocarro demorou-se, mas isso não irritou muito, só um bocadinho. Quando saí do autocarro, na Av. de Berna, uma rajada de vento partiu 4 varetas do meu chapéu de chuva NOVO, ESTREADO DEZ MINUTOS ANTES! Era dos chineses, por isso não estava à espera de muito melhor. Mas isso irritou-me. E ainda me irritou mais perceber que, com meio chapéu de chuva, eu estava meio à chuva. Logo, meio ensopado. Isso é irritante...
Fui a uma loja de música e não encontrei as partituras que queria. Normal, mas irritante. Depois fui à livraria da Gulbenkian, ali mesmo em frente, mas passavam 5 minutos da hora de fecho. 5 minutos esses que perdi do outro lado da rua a procurar partituras que não existem... Isto, sim, é irritante!
Saí da Gulbenkian e abri o meu meio chapéu de chuva e cobri o meu meio eu que estava ensopado para não apanhar ainda mais chuva. Grande erro: as médias aritméticas não se aplicam quando se anda à chuva, porque fiquei dois meios ensopado, ou seja, TODO ensopado. E o chapéu de chuva só cobria meio eu. Isto também irrita muito...
No caminho para casa reparei que muita gente olhava para o meu chapéu de chuva e para mim e esboçavam um sorriso gozão. Eu sorria também, mas no fundo sentia-me irritado.
Cheguei a casa e decidi comer uma barra de cereais light, para tentar controlar a proliferação de Barriguis enormus na minha zona abdominal. (NOTA: Não se preocupem, não é uma doença... É só mesmo a minha barriga que se ressente daquilo que eu como e não devo. Irritante...)
Para acabar em beleza, estava na casa de banho e o suporte do rolo de papel higiénico caiu. Montei-o de volta no lugar e pensei aos gritos comigo próprio "PORRA! Estou mesmo irritado! Vou escrever um post...", e cá estou eu.

quarta-feira, outubro 11, 2006

 

Solidão no meu Moleskine

Tenho um Moleskine. Na verdade tenho três, mas este foi o primeiro que comprei e uso-o quase como se fosse um diário, embora não escreva nele desde Junho. Hoje de manhã vi uma coisa que me fez pensar em algo que escrevi já há uns tempos, e que gostava de partilhar convosco. Por ser algo muito pessoal, passo-vos apenas um excerto:

Lisboa, 16 de Setembro de 2005
Bem... Já há muito tempo que não abro o meu Moleskine... Mas, se hoje o voltei a fazer, é porque há uma boa razão para isso. Talvez esteja a precisar de escrever, de comunicar, nem que seja com uma folha de papel.
Hoje, durante o almoço, estava a ver o telejornal e apareceu uma velhota numa reportagem que disse algo como "... e agora eu tenho a tensão alta, mas deve ser porque dia 14 vou fazer uma cirurgia de risco, e por isso tenho andado um bocadinho nervosa, ultimamente" e eu decidi, sem meditar muito no assunto, brincar com aquilo: "Bem, é mais uma daquelas pessoas que nunca fecham a boca... "Agora vou fazer uma cirurgia, daquelas que o meu Alberto já fez duas ou três vezes... Sim, o meu Alberto, o meu filho, aquele que trabalha ali numa empresa em Sacavém. Ah, aquele rapaz... Então não é que ainda no mês passado foi a Espanha? Trouxe-me de lá uma jarra tão bonita... Mas depois descobri que a Maria Amélia do 3º dto, aquela que a filha se mete na droga, também tem uma igual..." E a resposta da minha mãe foi "Sabes o que é isso? Solidão...", e eu fiquei a pensar melhor no assunto. O meu pai acrescentou que devemos ouvir estas pessoas, porque muitas vezes nem se trata de contarem a vida delas ou das vizinhas, mas sim de falarem um pouco, terem alguém que as queira ouvir... É simplesmente a básica necessidade de comunicar, que aumenta quando estamos sozinhos. E eu fiquei a pensar bem no assunto, e acabei por me identificar um pouco com essa necessidade.

O que eu vi hoje de manhã foi, à entrada do metro de Entrecampos, um homem dos seus setentas, com uma bengala, a estender a mão às pessoas... mas com a palma da mão virada para baixo. Não estava a pedir, penso eu, apenas parecia estar a tentar abordar as pessoas. Pareceu-me que queria falar com alguém. Não sei, foi só a impressão que me deu... Vi-o de longe e fui observando a cena enquanto me aproximava, mas quando passei por ele transformei-me em mais uma pessoa normal, apressada, atrasada para o emprego, não olhei sequer para ele. Mas senti que o olhar dele pousou, por instantes, em mim, como pousava em todas as pessoas que passavam. Como todas as pessoas que passavam, não retribuí sequer o olhar, não olhei para a mão que se estendia na minha direcção, não parei. E senti-me mal com isso. Senti-me mal com isso o dia todo, e odiei-me o dia todo por causa disso, e sinto que se voltasse a acontecer o mesmo, teria também continuado em frente. E odiar-me-ia de novo. Porque não há nada que eu possa fazer. E odeio-me por isso também.
O pensamento que me assaltou de seguida foi bastante egocêntrico: e se isto me acontecer a mim? Já pensei nisto várias vezes: quando vejo um homem que se curva ao andar, vergado pelo peso da idade, quando vejo uma pessoa cujas mãos tremem incessantemente e seria nitidamente incapaz de tocar piano (o que será de mim?), quando me cruzo com alguém cuja face rasgada pelas rugas já não permite distinguir um sorriso de uma expressão de profunda tristeza. E quando me cruzo com alguém que, não sei como nem porquê, sinto que está sozinha no mundo. O que será de mim? O que me irá acontecer daqui a 40 ou 50 anos? Vou estar cá, de mãos trémulas e enrugadas, sozinho, em casa, sentado numa poltrona de onde me custa levantar? Tenho medo...


 

Até onde vamos descer?

Até onde vamos ainda descer nesta nossa mentalidade tuga: limitada, retrógrada, estupidificante e estupidamente estúpida?
A RTP lançou um concurso intitulado "Os Grandes Portugueses". É aceitável, embora a própria iniciativa seja claramente o mesmo que admitir que não sabemos quem são os Grandes Portugueses que contribuiram para a nossa história, e que isso tem que ir a votos. Pelos vistos, os Grandes Portugueses não são distinguidos pelas suas conquistas, mas sim por votos telefónicos. Ainda assim, seria aceitável a iniciativa não fosse o facto de, na lista que sugere nomes de Grandes Portugueses, entre nomes como Vasco da Gama e Camões, surgir um nome de fruto: Figo! Sim, o Figo está lá, e também o Mourinho! Mas quero desde já frisar uma coisa: não acho que sejam personagens "a descartar"... Simplesmente, acho que já recebem demasiada atenção e são demasiadamente enaltecidos para aquilo que fazem (ou fizeram)! Além disso, não acho que encaixem na categoria de Grandes Portugueses: quem marca muitos golos durante um ano ou quem arranja uma táctica e um método de treino que faz uma equipa de futebol ganhar durante 1 ou 2 anos seguidos não deve ser comparado a quem, por exemplo, descobriu o caminho marítimo para a Índia e provocou o início das trocas comerciais com o Oriente ou quem escreveu uma monumental narrativa épica, uma das maiores que o mundo já conheceu.
Mas há outro problema: não só aparecem estes nomes aqui pelo meio como, para piorar a situação, a votação é livre! Podem votar nas pessoas que quiserem! Estou a começar a imaginar miudinhas de 12 anos a estoirarem o saldo do telemóvel em 200 mensagens com o nome da Floribela... Provavelmente, e à boa moda portuguesa, a RTP não contaria com esses votos porque a Flor é da concorrência... ;-) Mas muitas Floribelas e Simões e Nunos Gomes's vão aparecer, e isso é que é pena. É pena porque os "Grandes Portugueses" são a escolha do povo que, infelizmente, e esta é a verdade nua e crua por muito que doa aceitá-la, é um povo inculto e, pior ainda, sem sede de cultura. É uma infelicidade que se destaquem figuras tão ocas como a Floribela, o Figo, o Simão, o Zé Cabra, o Alexandrino e demais sanguessugas da atenção mediática e praticamente se desconheça a existência de Grandes Portugueses como Catarina Eufémia, Fernando Lopes-Graça, Egas Moniz e Bento de Jesus Caraça.
Talvez valha a pena visitar o site e ler algumas biografias:
http://www.rtp.pt/wportal/sites/tv/grandesportugueses/

domingo, outubro 01, 2006

 

Pequenas alegrias de um Domingo outonal

Há pequenas coisas que me trazem uma alegria aparentemente sem razão e que quase me emocionam. Estupidamente, sem razão nenhuma, mesmo!
Por exemplo, hoje... Estava na ponte 25 de Abril e o mundo parou para eu olhar em volta. O sol estava a brilhar, morno, com o calor que tanto é da Primavera como do Outono que chega.
Reflectiam-se no Tejo alguns raios que aqueciam o horizonte... Um cacilheiro branco e vermelho, ferrugento e preto, antigo, velho, símbolo de Lisboa mas com nome da outra banda, cortava o rio de margem a margem. De janela aberta, a 80 à hora, o vento que entrava não trazia um frio fluvial mas sim um fresco tágido. Ao longe, na cúpula da Basílica da Estrela, o branco era mais branco devido ao dourado do sol, de Alcântara ao Terreiro do Paço cada casa brilha com uma cor única, só sua, como se vivas estivessem. Elis Regina canta "Fascinação" no Rádio Clube Português e a magia duplica-se... Com o coração aquecido por esta realidade sobre tela, os olhos brilham mais que Lisboa inteira. Uma alegria estranha e inexplicável surge cá dentro e uma lágrima diz ter vontade de sair pelo canto do olho.
São coisas que por vezes me acontecem. Não sei porquê...

This page is powered by Blogger. Isn't yours?


Este blog TINHA um mail! Mas eu esqueci-me da password... Por isso mandem para aqui as vossas queixas, lamúrias, ameaças, cartas de resgate (aviso desde já que não pago mais do que um café e uma torrada por quem quer que seja...), de amor, cantigas de amigo (Ai Deus, e u é?) e de inimigo, de escárnio e maldizer...
jp4space@portugalmail.com
Nota para a senhora sessentona residente no Fogueteiro que enviou um mail com fotografias em Julho passado: eu não sou grande adepto de cera derretida sobre os mamilos...