terça-feira, outubro 24, 2006
Quando um gajo se irrita...
m ter tido tempo livre quase nenhum, o que por si só é ligeiramente irritante.quarta-feira, outubro 11, 2006
Solidão no meu Moleskine
Lisboa, 16 de Setembro de 2005
Bem... Já há muito tempo que não abro o meu Moleskine... Mas, se hoje o voltei a fazer, é porque há uma boa razão para isso. Talvez esteja a precisar de escrever, de comunicar, nem que seja com uma folha de papel.
Hoje, durante o almoço, estava a ver o telejornal e apareceu uma velhota numa reportagem que disse algo como "... e agora eu tenho a tensão alta, mas deve ser porque dia 14 vou fazer uma cirurgia de risco, e por isso tenho andado um bocadinho nervosa, ultimamente" e eu decidi, sem meditar muito no assunto, brincar com aquilo: "Bem, é mais uma daquelas pessoas que nunca fecham a boca... "Agora vou fazer uma cirurgia, daquelas que o meu Alberto já fez duas ou três vezes... Sim, o meu Alberto, o meu filho, aquele que trabalha ali numa empresa em Sacavém. Ah, aquele rapaz... Então não é que ainda no mês passado foi a Espanha? Trouxe-me de lá uma jarra tão bonita... Mas depois descobri que a Maria Amélia do 3º dto, aquela que a filha se mete na droga, também tem uma igual..." E a resposta da minha mãe foi "Sabes o que é isso? Solidão...", e eu fiquei a pensar melhor no assunto. O meu pai acrescentou que devemos ouvir estas pessoas, porque muitas vezes nem se trata de contarem a vida delas ou das vizinhas, mas sim de falarem um pouco, terem alguém que as queira ouvir... É simplesmente a básica necessidade de comunicar, que aumenta quando estamos sozinhos. E eu fiquei a pensar bem no assunto, e acabei por me identificar um pouco com essa necessidade.
O que eu vi hoje de manhã foi, à entrada do metro de Entrecampos, um homem dos seus setentas, com uma bengala, a estender a mão às pessoas... mas com a palma da mão virada para baixo. Não estava a pedir, penso eu, apenas parecia estar a tentar abordar as pessoas. Pareceu-me que queria falar com alguém. Não sei, foi só a impressão que me deu... Vi-o de longe e fui observando a cena enquanto me aproximava, mas quando passei por ele transformei-me em mais uma pessoa normal, apressada, atrasada para o emprego, não olhei sequer para ele. Mas senti que o olhar dele pousou, por instantes, em mim, como pousava em todas as pessoas que passavam. Como todas as pessoas que passavam, não retribuí sequer o olhar, não olhei para a mão que se estendia na minha direcção, não parei. E senti-me mal com isso. Senti-me mal com isso o dia todo, e odiei-me o dia todo por causa disso, e sinto que se voltasse a acontecer o mesmo, teria também continuado em frente. E odiar-me-ia de novo. Porque não há nada que eu possa fazer. E odeio-me por isso também.
O pensamento que me assaltou de seguida foi bastante egocêntrico: e se isto me acontecer a mim? Já pensei nisto várias vezes: quando vejo um homem que se curva ao andar, vergado pelo peso da idade, quando vejo uma pessoa cujas mãos tremem incessantemente e seria nitidamente incapaz de tocar piano (o que será de mim?), quando me cruzo com alguém cuja face rasgada pelas rugas já não permite distinguir um sorriso de uma expressão de profunda tristeza. E quando me cruzo com alguém que, não sei como nem porquê, sinto que está sozinha no mundo. O que será de mim? O que me irá acontecer daqui a 40 ou 50 anos? Vou estar cá, de mãos trémulas e enrugadas, sozinho, em casa, sentado numa poltrona de onde me custa levantar? Tenho medo...
Até onde vamos descer?
votos. Pelos vistos, os Grandes Portugueses não são distinguidos pelas suas conquistas, mas sim por votos telefónicos. Ainda assim, seria aceitável a iniciativa não fosse o facto de, na lista que sugere nomes de Grandes Portugueses, entre nomes como Vasco da Gama e Camões, surgir um nome de fruto: Figo! Sim, o Figo está lá, e também o Mourinho! Mas quero desde já frisar uma coisa: não acho que sejam personagens "a descartar"... Simplesmente, acho que já recebem demasiada atenção e são demasiadamente enaltecidos para aquilo que fazem (ou fizeram)! Além disso, não acho que encaixem na categoria de Grandes Portugueses: quem marca muitos golos durante um ano ou quem arranja uma táctica e um método de treino que faz uma equipa de futebol ganhar durante 1 ou 2 anos seguidos não deve ser comparado a quem, por exemplo, descobriu o caminho marítimo para a Índia e provocou o início das trocas comerciais com o Oriente ou quem escreveu uma monumental narrativa épica, uma das maiores que o mundo já conheceu.domingo, outubro 01, 2006
Pequenas alegrias de um Domingo outonal
Há pequenas coisas que me trazem uma alegria aparentemente sem razão e que quase me emocionam. Estupidamente, sem razão nenhuma, mesmo!Por exemplo, hoje... Estava na ponte 25 de Abril e o mundo parou para eu olhar em volta. O sol estava a brilhar, morno, com o calor que tanto é da Primavera como do Outono que chega. Reflectiam-se no Tejo alguns raios que aqueciam o horizonte... Um cacilheiro branco e vermelho, ferrugento e preto, antigo, velho, símbolo de Lisboa mas com nome da outra banda, cortava o rio de margem a margem. De janela aberta, a 80 à hora, o vento que entrava não trazia um frio fluvial mas sim um fresco tágido. Ao longe, na cúpula da Basílica da Estrela, o branco era mais branco devido ao dourado do sol, de Alcântara ao Terreiro do Paço cada casa brilha com uma cor única, só sua, como se vivas estivessem. Elis Regina canta "Fascinação" no Rádio Clube Português e a magia duplica-se... Com o coração aquecido por esta realidade sobre tela, os olhos brilham mais que Lisboa inteira. Uma alegria estranha e inexplicável surge cá dentro e uma lágrima diz ter vontade de sair pelo canto do olho.
São coisas que por vezes me acontecem. Não sei porquê...



