Quem as não tem?
Por várias vezes dei por mim a indagar quão estúpido era receber cartas de amor com perfume. Estúpido pois o perfume desaparece, estúpido pois o perfume dilui a tinta, estúpido ainda mais porque a pessoa não está ali. No entanto, encontrei recentemente cartas de amor que datam de há seis anos atrás. E não são estúpidas.
Não são estúpidas, porque o perfume continua lá.
Não são estúpidas, pois foram escritas e perfumadas por quem foram.
Não são estúpidas, porque a pessoa não está ali, mas está o cheiro pelo qual a conheço em qualquer parte do mundo. Está o perfume que, inconscientemente, ainda me faz virar a cabeça quando o sinto no ar numa estação de metro apinhada, mesmo sabendo que a pessoa em questão já não o usa há anos. Está este perfume que, seis anos depois, continua impregnado naquele papel de caderno escolar, deixando como marca da sua existência a tinta desbotada de esferográfica azul e, ao abrir a capa onde guardo as cartas, solta no ar o cheiro que me faz recuar até ao meu baile de finalistas do 9º ano e viver novamente aqueles abraços, aqueles beijos e aquele primeiro amor.
# pintado por JoaoPedro @ 19:17