Este Blog foi um programa de rádio The Steadfast Tin Soldier: A melhor sensação do mundo...

domingo, abril 08, 2007

 

A melhor sensação do mundo...

De 5ª a Sábado estive no Algarve. Ou será Allgarve? Não sei bem... Mas, a julgar pelos espanhóis que se passeiam de carro pelas ruas de Faro, eu diria Algarbe, com pronúncia espanhola... Bem, mas era para dizer isto: 6ª feira passada, 6 de Abril, foi a minha estreia com uma orquestra profissional. Estive, até este fim de semana, no Coro de Câmara do IGL como reforço para o naipe dos baixos, para um concerto com a Missa da Coroação KV 317 (Mozart) - com a Orquestra Sinfónica Juvenil - e dois concertos com o Requiem de Domingos Bomtempo, em conjunto com a Orquestra Metropolitana de Lisboa. O primeiro, na 6ª feira, foi em Faro. O segundo foi ontem (Sábado), na Aula Magna.
Em relação à qualidade da OML, não me posso pronunciar porque corro o risco de dizer alguma baboseira que não corresponde à realidade, dada a minha inexperiência no trabalho com orquestras e a minha total incapacidade de definir se tocou bem ou muito bem. Só sei que não tocou mal ;-) Mas qualquer falha da orquestra era perfeitamente compensada, a meu ver, pela majestosa presença em palco do maestro Álvaro Cassuto, "um velhote cheio de estilo", como alguém diria, embora "não tenha rabo nenhum" e pareça "um grilo". A forma como o maestro explicou a interpretação pretendida para algumas passagens durante os ensaios soou-me bastante próxima, achei incrível a capacidade de transmitir ao coro exactamente o que queria usando palavras que parecem tão vagas e sem sentido na interpretação de um Requiem do início do séc. XIX como "sexy" e "íntimo".
Aproveito para deixar uma informação que, possivelmente, poucos saberão: embora o Requiem tenha escrito na capa "à memória de Camões", na verdade foi escrito em homenagem ao General Gomes Freire de Andrade, que foi enforcado no forte de São Julião da Barra. Como seria extremamente arriscado dedicar uma obra desta magnitude a um liberal recém-enforcado como Gomes Freire - o que lhe poderia até custar a vida -, Bomtempo preferiu dedicá-la "oficialmente" a Camões. Por curiosidade: esta informação chegou-me através do meu professor de geometria, Prof. Paulo Almeida, e verifiquei-a no site do Conservatório Nacional.
Mas quero finalizar este post partilhando com todos os que o lêem uma sensação que eu acho indescritível, e como tal não vou descrever o que senti mas sim a situação: no final, tendo um dos maiores maestros da actualidade e uma orquestra profissional à nossa frente, as pessoas levantam-se e batem palmas. E as lágrimas insistem em vir-nos aos olhos. Orgulho do que acabámos de fazer - orgulho na música. É, sem dúvida, a segunda melhor sensação do mundo...

Comments:
Qual é a primeira? =P
 
...e a primeira, qual é?...
 
É para mim uma novidade saber que o Requiem é, na verdade, em memória de Gomes Freire de Andrade e, apenas oficialmente, constitui uma (hipotética) missa fúnebre para Camões. O facto de esta informação constituir uma novidade para mim é absolutamente inaceitável. Por duas razões. A primeira prende-se com o facto de não me ter dado ao trabalho de procurar informação sobre o concerto em causa, uma vez que não é assim tão difícil nem penoso fazê-lo. Contudo, se a minha própria pregiça me indigna, que dizer da segunda razão? A segunda razão, para quem não esteve em Faro no dia 6 de Abril no Teatro da Figuras, tem a história seguinte: o concerto dessa noite foi o concerto inaugural do FIMA (Festival Internacional de Música do Algarve), para o qual foi nomeada uma comissão de honra (algo numerosa), cuja presidente é Maria Cavaco Silva. Depois de muitos agradecimentos, que já eram quase idólatras, a Maria Cavaco Silva, é chamado ao palco (por um senhor num tom extremamente monocórdico com hiatos incríveis entre cada palavra cara que dizia) alguém que, segundo o dito senhor, era "um homem muito importante para Faro, ele próprio um camoniano". Pensei eu, na minha ingenuidade, "Queres ver que é o António Ramos Rosa? Deve ser, já que ele faz parte da Comissão de Honra e é um poeta maior de entre os poetas algarvios". Eis senão quando foi José Hermano Saraiva quem foi chamado ao palco. Atenção: José Hermano Saraiva fez 2 programas no Algarve. A sua importância queda-se no património televisivo (embora as histórias da História que este senhor narra, sejam altamente contestadas pelos mais reputados professores universitários na área da História de Portugal), agora que seja muito importante para o Algarve...É importante, porque democratizou a História, embora podendo ter dito umas quantas balelas durante bons anos...mas não foi apenas e só no Algarve. Após a entrega do costumeiro prémio autárquico a José Hermano Saraiva (isto já depois de terem exibido umas imagens de José Hermano Saraiva, desde o período áureo do Estado Novo - para o dito, evidentemente - até há uns anos atrás), José Hermano Saraiva começa a falar de quem? De Camões. E nem o senhor que o apresentou, nem José Hermano Saraiva deu a pequena informação que o João aqui deu no post. Era aqui que eu queria chegar com esta conversa toda. É um protesto que faço para os poucos que me queiram ler: esta doença tipicamente portuguesa de amar em grande os grandes, de preterir a homenagem a homens da terra para prestar homenagem a figuras com maior projecção, de idolatrar, é idiota e a classe política parece adorá-la. No dia 6 de Abril, em Faro, estiveram mais preocupados em homenagear e em idolatrar primeiro, Maria Cavaco Silva, depois, José Hermano Saraiva, do que em dar informações sobre aquilo que se ia passar naquele teatro...Não quero dizer que as autarquias ou que a classe política em geral não deva homenagear ninguém, nem agradecer a obra feita. Agora, lamber botas é de mais. Esta atitude, que eu diria quase servil (herança dos tempos áureos para o sr. José Hermano Saraiva? Talvez...), perante quem se homenageia enoja-me.

Ah! Depois da revolta: foi óptimo aplaudir o João na sua estreia com uma orquestra profissional. Claro que foi óptimo aplaudir, também e em simultâneo, todo o coro do IGL, bem como a Orquestra Metropolitana, e seu respectivo e respeitoso maestro e solistas. Com tanto talento para aplaudir, não me arrependi de não ter aquecido as mãos nas homenagens iniciais. Termino com chave de ouro, como diria o lion (eu sei que é plágio, mas estou a citar-te): "Peace".
 
à pergunta formulada pelo bull e pela mariana, responderei muito brevemente num outro post. a resposta (talvez abstracta) chegará numa questão de minutos, prometo...
à tatiana: obrigado por tudo (não te ofendas ;p )
 
Alguma coisa contra parecer "um grilo" ? Acho bem que não ;) !
 
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