De 5ª a Sábado estive no Algarve. Ou será Allgarve? Não sei bem... Mas, a julgar pelos espanhóis que se passeiam de carro pelas ruas de Faro, eu diria Algarbe, com pronúncia espanhola... Bem, mas era para dizer isto: 6ª feira passada, 6 de Abril, foi a minha estreia com uma orquestra profissional. Estive, até este fim de semana, no Coro de Câmara do IGL como reforço para o naipe dos baixos, para um concerto com a Missa da Coroação KV 317 (Mozart) - com a Orquestra Sinfónica Juvenil - e dois concertos com o Requiem de Domingos Bomtempo, em conjunto com a Orquestra Metropolitana de Lisboa. O primeiro, na 6ª feira, foi em Faro. O segundo foi ontem (Sábado), na Aula Magna. Em relação à qualidade da OML, não me posso pronunciar porque corro o risco de dizer alguma baboseira que não corresponde à realidade, dada a minha inexperiência no trabalho com orquestras e a minha total incapacidade de definir se tocou bem ou muito bem. Só sei que não tocou mal ;-) Mas qualquer falha da orquestra era perfeitamente compensada, a meu ver, pela majestosa presença em palco do maestro Álvaro Cassuto, "um velhote cheio de estilo", como alguém diria, embora "não tenha rabo nenhum" e pareça "um grilo". A forma como o maestro explicou a interpretação pretendida para algumas passagens durante os ensaios soou-me bastante próxima, achei incrível a capacidade de transmitir ao coro exactamente o que queria usando palavras que parecem tão vagas e sem sentido na interpretação de um Requiem do início do séc. XIX como "sexy" e "íntimo".
Aproveito para deixar uma informação que, possivelmente, poucos saberão: embora o Requiem tenha escrito na capa "à memória de Camões", na verdade foi escrito em homenagem ao General Gomes Freire de Andrade, que foi enforcado no forte de São Julião da Barra. Como seria extremamente arriscado dedicar uma obra desta magnitude a um liberal recém-enforcado como Gomes Freire - o que lhe poderia até custar a vida -, Bomtempo preferiu dedicá-la "oficialmente" a Camões. Por curiosidade: esta informação chegou-me através do meu professor de geometria, Prof. Paulo Almeida, e verifiquei-a no site do Conservatório Nacional.
Mas quero finalizar este post partilhando com todos os que o lêem uma sensação que eu acho indescritível, e como tal não vou descrever o que senti mas sim a situação: no final, tendo um dos maiores maestros da actualidade e uma orquestra profissional à nossa frente, as pessoas levantam-se e batem palmas. E as lágrimas insistem em vir-nos aos olhos. Orgulho do que acabámos de fazer - orgulho na música. É, sem dúvida, a segunda melhor sensação do mundo...
# pintado por JoaoPedro @ 00:59