Este Blog foi um programa de rádio The Steadfast Tin Soldier: "I'm a Barbie girl"

sábado, março 10, 2007

 

"I'm a Barbie girl"

Não, não é o mais recente título de Margarida Rebelo Pinto (essa produtora massiva de literatura de latrina), nem sequer é um ímpeto saudosista de revisitar esse hit dos anos 90...a intenção é mesmo falar da Barbie. A Barbie povoou, ou melhor, colonizou a minha infância e a de muitas crianças. A Barbie permitia fazer muitas coisas, mais ou menos ortodoxas, dependendo da imaginação das crianças...representava a possibilidade de criar, construir, recriar e reinventar sonhos e aspirações.

Porém, nem tudo é cor-de-rosa, como a própria Mattel poderá querer fazer crer (jogo fonético engraçado)...Uma coisa é certa: a Barbie tem tudo e reinventa-se a si própria constantemente, consoante as modas e a concorrência (Sindy, Bratz e afins). Em última análise, a Barbie representa o sonho americano e, mais do que isso, o sonho humano: a Barbie é saudável, bonita (para quem assim o entenda), é inteligente (sim, porque ela é veterinária, médica, professora, etc.), é dona de uma fortuna fabulosa, é popular, tem amigos (verdadeiros, claro, se não deixaria de ter piada) e tem um namorado com a capacidade monumental de fazer a barba. A Barbie é eternamente jovem (talvez seja ela a verdadeira alquimista), mito que a humanidade persegue desde antes de existir História.

A Barbie foi ao encontro de um conjunto de ideais que crianças e adultos, uns mais secretamente que outros, desejam. Mas até que ponto será justo ou útil ou pedagógico introduzir na formação criativa das crianças um modelo (porque o é) de perfeição, de capacidades físicas e intelectuais que, em simultâneo, são pura e simplesmente falaciosas, e pior, inexistentes? Será possível avaliar a intensidade com que o modelo permanecerá no subconsciente das crianças, ideal que se projectará no seu futuro e muito para além da Barbie em si mesma? Num mundo cada vez mais competitivo em que as qualidades e apetências exigidas são cada vez mais rígidas, mundo esse que nos acorda diariamente para o facto de não sermos Barbies, de não sermos invejáveis modelos de perfeição ou fontes de juventude e felicidade eternas...Talvez seja por nem todos os dias encontrarem no melhor de si um lastro de perfeição, que muitos de nós fazem peregrinações à farmácia mais próxima e deixam a frustração e Prozac reinar...Não quero ser alarmista, mas a aflição da ausência de perfeição já fez correr muita lágrima. E não estou a atribuir a culpa exclusivamente à Mattel ou à Barbie...atrevo-me é a interrogar a dimensão que a sua presença na formação da criatividade infantil adquire na adultez das crianças que com elas brincaram.

A Barbie está sempre a sorrir, mesmo nos piores momentos (é uma senhora e jamais perde a compostura)...Rugas? Nem vê-las! Mesmo a Barbie veterinária só cuida de cães e gatos....ainda não se viu nenhuma Barbie fazer um parto a uma vaca...enfim, ossos do ofício da perfeição de uma vida inexistente. I'm a Barbie girl.

Comments:
=)
Antes de mais... "com a capacidade monumental de fazer a barba" -> eu bem sabia que devia fazer a barba mais frequentemente! =P lol kidding ;P
Bem, a Barbie é, sem dúvida, um modelo de perfeição. Sempre o foi! Lá está, emprega-se até a expressão "é uma Barbie" quando nos referimos a alguém que parece (ou que faz por parecer) "muito perfeita"... "Muito perfeita" surge entre aspas por uma razão muito simples: a perfeição é SEMPRE subjectiva... Uma pessoa X poderá ser alguém com quem Y não sente particular empatia, mas poderá ser a pessoa perfeita para Z. Porque as pessoas são diferentes, procuram coisas diferentes. E mesmo a procura que as pessoas fazem é modificada ao longo dessa própria "busca", muitas vezes por descobrirem algo a que não tinham ainda prestado atenção. Afinal, há coisas perfeitas que nunca antes tinhamos pensado que seriam perfeitas!
Já que andei para aqui a divagar, aproveito para deixar (a propósito da mudança... =) um soneto de Camões...

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades. =)

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.
 
Já agora, por falar em perfeição... Nice post! ;)
 
omg! prozac! xD
 
e o melhor da barbie é ter o ken e o action man como acessórios e objectos sexuais...
o mundo da barbie é adorável! XD
A barbie foi, em tempos, a emancipação das mulheres e, agora, é um símbolo de mulher perfeita (que todas desejamos ser ou entao nao)
bom post e tudo mais
!corbelha!
 
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