Este Blog foi um programa de rádio The Steadfast Tin Soldier: Filhuh de peiche...

domingo, fevereiro 18, 2007

 

Filhuh de peiche...

Tenho a sorte de ser filho de uma professora de português. Tive a sorte (por vezes um pouco chata, é verdade, mas nem por isso deixando de ser sorte) de, durante toda a minha vida, ver os meus erros ortográficos e de sintaxe corrigidos e, consequentemente, ser hoje capaz de escrever sem dar grandes pontapés na gramática. Curiosamente, e só reparo bem nisto agora que escrevo este post, a profissão da minha mãe acaba por afectar a minha vida. Reparem: num vaso foleiro comprado nos chineses que está à minha frente encontram-se 29 canetas, 15 das quais escrevem vermelho - é o arsenal de tortura... digo, de correcção de testes da minha mãe. A menos de um metro de mim encontra-se um dicionário e uma gramática. Na estante à minha direita empilham-se livros de prosa e poesia medieval, análise de obras, teoria da literatura e afins. Ao lado, numa prateleira, 13 outros dicionários. Até a minha vida social foi afectada: uma das críticas que eu mais ouvia no 9º ano era o facto de estar sempre a corrigir as pessoas quando conjugavam um verbo erradamente, empregavam uma pessoa inadequada, construíam mal o plural... E, recentemente, lembraram-me de um episódio passado no 8º ano que eu já tinha esquecido: uma rapariga (Diana, se não me engano...) escreveu-me, um dia, uma carta de amor. Nunca cheguei a perceber bem se ela estava a gozar ou se era verdade; só sei que encontrei a carta cheia de erros ortográficos, peguei numa caneta vermelha, corrigi-os e devolvi-lhe a missiva! Hoje rio-me, na altura provavelmente também me ri, mas agora tenho noção de que o que fiz foi horrível. A não ser que a carta fosse uma brincadeira...
Fora todas estas implicações que a profissão da minha mãe teve na minha vida e que me continuarão a afectar de tal forma que permanecerei virgem até aos 50, crescer-me-ão pêlos nas orelhas e nos ombros, nascerá uma verruga castanha e saliente bem no meio do meu nariz e as minhas extremidades apodrecerão e cairão sozinhas, há momentos de prazer. Esses momentos são quando a minha mãe traz testes para corrigir em casa e nos podemos deliciar a ler as barbaridades que lá estão escritas. Alguns exemplos:

Elabora uma frase em que empregues o verbo "ranger":
Eu gosto muito de ver o ranger do texas.

Elabora uma frase em que empregues a palavra "toucador":
O meu pai bateu na mesa sem querer e depois disse "Ai! Toucador!"

Sequesso = Sexo

Fula grande = Flagrante

Cabo das Estrumentas = Cabo das Tormentas

A grande guerra do Solnado = A batalha do Salado

Bacho = Baixo

Come-se = Comece

Adiantarse-i-ão = Adiantar-se-iam

Perante tais monumentos à ignorância gramatical, será que alguém defende que os audiolivros são boas apostas para a educação das crianças? É que há quem escreva "adiantarse-i-ão" e leia "adiantar-se-iam"...


Comments:
Olha encontrei um erro de construção frásica. Escreveste:

"(...) e cairão sozinhas, há momentos de prazer. Esses momentos são (...)"

quando devias ter escrito:

(...) e cairão sozinhas. Há momentos de prazer, esses momentos são (...)

Desculpa, não resisti ;)
 
Agradeço a atenção... no entanto, a construção da frase está correcta =P "Fora (bla bla bla), há momentos de prazer." E depois passo a explicar: "Esses momentos são... etc..." =P
 
Ah, então está bem. Não tinha lido o "Fora" (ups :P).
Sendo assim, a composição leva um "Muito Bom".

:B
 
[Uma pergunta:]

A tua mãe é professora de Português em turmas de que ano de escolaridade?!

[Uma expressão de indignação:]

O QUÊ?!

[continuando...]

Houve realmente uma rapariga a escrever-te uma carta de amor... E tu perpetraste tal barbaridade?!
O amor desculpa tudo, porque não também os erros gramaticais?!
Bom, se era a gozar... Hum... Vamos simplesmente assumir que era realmente a gozar...
Não quero ver-te como um daqueles indivíduos de tal forma carregados de sorte, que ainda se dão ao luxo de desprezar de forma tão cruel uma demonstração desse tipo por parte de uma rapariga...
Deixa a crueldade para as mulheres, amigo! Elas são muito melhores nisso...

Enfim, quanto ao centro da questão abordada, todos temos a noção de que muito mais de metade da população portuguesa fala e escreve pior português do que o José Mourinho fala inglês!

Fica bem!... E porta-te mal!
Peace ;p
 
[uma resposta]
7º, 8º e 9º ano. Ainda são "putos", mas daí a escreverem "fula grande" como sendo "flagrante"... :P

[nodding my head at your "O QUÊ?!"]
hmm hmm...

[a continuação]
se bem que não possa garantir com toda a certeza que a carta era realmente a gozar comigo (como todas até hoje foram... aqueles papelinhos no dia dos namorados "estou louca de desejo por ti, o meu amor por ti é infinito, por favor não me desprezes! dou-te notícias brevemente... beijos loucos, admiradora secreta"... e depois nc mais se ouve falar dela! =P bem, todas excepto as cartas vindas de duas pessoas, mas essas não foram no dia dos namorados...), tenho profundas dúvidas acerca da veracidade do conteúdo dessa carta... até porque a dita rapariga estava sempre a gozar comigo, praticamente só nos conhecíamos de vista mas mesmo assim não nos suportávamos um ao outro...

[uma gargalhada, como quem diz "mas 'tás parvo ou fazes-te???"]
"um daqueles indivíduos de tal forma carregados de sorte..."
AH AH AH AH AHHHH!!!!!

[o sorriso cúmplice de quem concorda plenamente]
"Deixa a crueldade para as mulheres, amigo! Elas são muito melhores nisso..."

[o final]
 
Eu também gosto muito de ver o ranger do Texas. Hehe.
 
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