terça-feira, janeiro 02, 2007
O Juramento dos Hipócritas...
Hospital de Matosinhos: demitiram-se 19 directores de serviçoDezanove dos 25 directores de serviço do Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, apresentaram hoje uma carta de demissão em resposta à decisão do Conselho de Administração da unidade de saúde de controlar a sua assiduidade por impressão digital.
(...)
A Delegação no Norte da Ordem dos Médicos (OM/Norte) criticou a medida adoptada pela unidade de Matosinhos, por considerar que reduz a actividade médica a «um exercício essencialmente burocratizado».
O organismo nortenho atribui ainda à administração da Unidade Local de Saúde de Matosinhos todas as responsabilidades por decréscimos de produtividade que venham a ocorrer.
Especificamente na classe médica - ainda pior. São aqueles q n podem MM faltar qd são precisos, e é por essas e por outra q há "falta de médicos em Portugal" m o nº de médicos por milhar de habitantes é superior aos países mais desenvolvidos da Europa... Afinal, estavam no consultório.
P.S.: olha a minha sonata!=D
Como disseste, e muito bem, "afinal estavam no consultório". Privado. Onde só pode ir quem tem dinheiro para o pagar, enquanto que no hospital, onde a maioria das pessoas pode ir e os médicos recebem menos por consulta, nem lá põem os pés. Para tornar o cenário ainda mais vergonhoso, junte-se as taxas hospitalares e os acréscimos às taxas de acamamento para períodos inferiores a 10 dias, ou lá o que é... E já começam a surgir as anedotas sobre isso! Como dizia o Daniel Sampaio, «existem tantas graças sobre os nossos "governantes", que se atropelam nas cabeças dos criativos de humor»...
Esses casos que tu conheces são muito particulares. Não me atrevo a dizer "raros", fico-me apenas por "particulares". As pessoas não se queixam em vão...
Mas, já que contaste as tuas vivências, vou eu contar as minhas.
Histórias banais... Há uns dois ou três anos a minha mãe teve uma doença que ninguém chegou a saber explicar. Teve várias consultas marcadas no hospital, onde passou várias horas à espera numa zona tão saudável quanto a sala de espera do bloco de infecto-contagiosas. Estive com ela, uma vez, e a minha mãe tinha uma consulta para o início da manhã. Estavamos lá antes da hora. O médico chegou HORAS depois, de jornal debaixo do braço, num passo lento enquanto conversava com um colega.
Outra história banal: lembro-me de uma consulta de clínica geral que tive marcada para as 9h00 da manhã. Tinha um teste às 10h45. Pensei que dava tempo. O médico chegou às 11h00, capacete debaixo do braço, com o seu feliz ar de motoqueiro.
Uma história nada banal. Ou, se calhar, infelizmente, bastante banal até... A minha avó tem 73 anos. Há cerca de 12 ou 13 anos, não me recordo bem, teve um AVC. No hospital, a minha avó demorou várias horas para ser atendida. A justificação: não apresentava quaisquer sinais exteriores. Por isso fizeram passar à frente da minha avó pessoas com dedos, braços partidos, nódoas negras, e tudo o que fossem "sinais exteriores". A minha avó ficou sentada numa cadeira de rodas, sem responder a qualquer estímulo, com a cabeça descaída e o queixo torcido porque "não apresentava sinais exteriores". Durante as horas que ficou sentada, o sangue que tinha saído da artéria que rebentou na cabeça da minha avó começou a ferir o cérebro. O cérebro "mirrou", e o espaço entre o cérebro e o crânio aumentou. (Não sei os nomes técnicos, digam-me vocês...) Desde então, devido a isso, sofreu vários acidentes isquémicos e foi perdendo capacidades, e isso nota-se sobretudo ao nível da memória.
Hoje, essas pessoas com dedos partidos e braços partidos continuam, muito possivelmente, a levar uma vida normal. Se tivessem sido atendidas 30 minutos mais tarde, hoje estariam na mesma. Se tivessem sido atendidas 3 horas mais tarde, também.
Porque o sangue no cérebro da minha avó não foi drenado a tempo, hoje a minha avó não me conhece. Há alturas em que sabe quem eu sou, noutras alturas não faz a mais pálida ideia. Recusa-se a deitar-se na cama ao lado do meu avô e vai deitar-se com a minha mãe porque "está ali um velhote na minha cama... mas eu não o conheço! já fui casada com ele, acho que ele é o teu pai...", e noutras alturas levanta-se da mesa onde estamos a almoçar e vai passear para a rua. Quando o meu avô lhe pergunta o que se passa, ela responde, sobre a minha mãe, "quem é aquela senhora ali à mesa?". Não sei se isto lhe custa ou não, talvez não se lembre... A nós, a toda a família, custa-nos muito ver assim a minha avó.
Acredito que os teus familiares sejam médicos exemplares e rigorosos no cumprimento do seu dever, como muitos outros que também existem, com certeza. O problema é que há muitos outros que são uns grandessíssimos filhos da puta que não põem os pés no hospital porque aquilo está garantido, por isso vamos é dar consultas no privado, que isso é que me faz ganhar à grande. É graças a essas pessoas que a minha avó está no estado em que está e muitas outras pessoas estão, possivelmente, bastante piores.
P.S. - Passar o dedo numa máquina à entrada e outra vez à saída demora assim tanto tempo? Quer-me parecer que os interesses são, na verdade, outros...
Se ao menos eles não fossem pontuais porque ficaram a estudar melhor os casos dos seus pacientes, enfim...
Mas tudo bem, se não têm tempo para estudar também não têm tempo para passar a "manápula" pelo identificador. É que muitos (não estou a dizer todos)têm de segurar na carteira com as duas mãos.
Ainda hoje não sei se o que tenho é um cancro ou não...
Para escurecer ainda mais o negro cenário, o ministro, a propósito desta reportagem (onde a filha da senhora que sofreu um AVC dizia que o ministro não sabia do que falava quando dizia que tudo estava bem nos hospitais portugueses...), numa conferência de imprensa onde estava a TVI, boicotou propositadamente este canal de televisão, cortando o som aos seus microfones, como "resposta" a terem exibido a entrevista. Entre o Salazar e isto, venha o diabo e escolha. Meus amigos, é que é MESMO hora de tocar a reunir...
ao contrário do que dizes, o estado tem vindo a reduzir drasticamente os ordenados dos médicos que para tua informação ficam a trabalhar depois da hora marcada porque os doentes não ficam sãos, de repente, ás 13h.
talvez tenhas a ideia que alguns medicos se ausentam do hospital para ir para o seu consultorio, mas esses são a minoria.
os iniciantes, como eu, fartam-se de trabalhar.
e o nosso ordenado base é igual ao de uma administrativa da funçao publica.
e em vez d ficarmos sentados em cadeiras, fazemos urgencias internas e bancos de 24h.
talvez te devesses informar melhor.
Agem como se os doentes tivessem de se sentir gratos para com eles, quando eles estão simplesmente a fazer o seu trabalho, pelo qual ganham do bom e do bonito.
<< Home