Este Blog foi um programa de rádio The Steadfast Tin Soldier: O Juramento dos Hipócritas...

terça-feira, janeiro 02, 2007

 

O Juramento dos Hipócritas...

In Diário Digital:

Hospital de Matosinhos: demitiram-se 19 directores de serviço

Dezanove dos 25 directores de serviço do Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, apresentaram hoje uma carta de demissão em resposta à decisão do Conselho de Administração da unidade de saúde de controlar a sua assiduidade por impressão digital.

(...)

A Delegação no Norte da Ordem dos Médicos (OM/Norte) criticou a medida adoptada pela unidade de Matosinhos, por considerar que reduz a actividade médica a «um exercício essencialmente burocratizado».

O organismo nortenho atribui ainda à administração da Unidade Local de Saúde de Matosinhos todas as responsabilidades por decréscimos de produtividade que venham a ocorrer.

Pela primeira e (espero eu...) última vez na história deste blog, uma boa asneirola para todos estes senhores: VÃO PARA O CARALHO!
Quer-me a mim parecer que o Juramento de Hipócrates é, neste caso, o Juramento dos Hipócritas: o argumento da "redução de produtividade" serve para encobrir a verdade que todos nós conhecemos: que, com este controlo de assiduidade mais apertado, os médicos não podem "estar" no hospital (e receber o salário por isso...) ao mesmo tempo que ESTÃO num consultório privado, a ganhar bom dinheirinho! Se há filas de espera intermináveis nos serviços de saúde, devem-nas aos médicos que estão num consultório privado enquanto deveriam supostamente estar a trabalhar no hospital, e assim ganham duplamente. Devem-nas aos médicos que se levantam às 10h e chegam ao hospital às 12h, altura em que têm a sua "hora" de almoço e só voltam às 15h... Devem-nas aos médicos que fazem uma pausa de 2 horas para um café e um cigarro. Devem-nas aos médicos que vão tratar dos seus assuntos na hora em que supostamente deveriam estar a tratar de uma senhora que talvez venha a ficar com a vida completamente destruída porque não foi atendida na hora em que foi preciso! Mas isso já não é com eles, isso agora é com o patologista...
É uma falta de honestidade tremenda, e que me toca principalmente por vir de pessoas que têm as nossas vidas nas mãos e são, na sua maioria, elevadas aos píncaros porque... Ai, ui, o Senhor Doutor...!
Mais uma prova de que a média de 19 nem sempre é sinónimo de médico competente...

P.S. - Pedro, Mariana (C.), Mariana (L.), Verónica, Marta, Inês... Estamos (eu e Portugal inteiro...) a contar com vocês para mudarem isto no futuro...

Comments:
É uma vergonha... mas a ainda mais triste vdd é q em qq sector da função pública q fosse submetido a essa medida logo se levantariam os sindicatos respectivos a protestar exactamente da mm forma!
Especificamente na classe médica - ainda pior. São aqueles q n podem MM faltar qd são precisos, e é por essas e por outra q há "falta de médicos em Portugal" m o nº de médicos por milhar de habitantes é superior aos países mais desenvolvidos da Europa... Afinal, estavam no consultório.

P.S.: olha a minha sonata!=D
 
E eu concordo plenamente que se implemente isto em toda a função pública... E não só na função pública: em todo o lado! Todos os locais de trabalho deviam ter o acesso controlado APENAS por identificação biométrica (isso já acontece nalguns locais, como por exemplo em alguns departamentos da PT nas Picoas), nada de cartõezinhos que dá para sair sem passar nada... porque a identificação biométrica é praticamente impossível de falsificar (aquelas histórias de cortar a pele do polegar não resultam... além de que seriam bastante doloroso, digo eu =P )...
Como disseste, e muito bem, "afinal estavam no consultório". Privado. Onde só pode ir quem tem dinheiro para o pagar, enquanto que no hospital, onde a maioria das pessoas pode ir e os médicos recebem menos por consulta, nem lá põem os pés. Para tornar o cenário ainda mais vergonhoso, junte-se as taxas hospitalares e os acréscimos às taxas de acamamento para períodos inferiores a 10 dias, ou lá o que é... E já começam a surgir as anedotas sobre isso! Como dizia o Daniel Sampaio, «existem tantas graças sobre os nossos "governantes", que se atropelam nas cabeças dos criativos de humor»...
 
eu sei que venho defender (o que dizem ser) a minha classe... caro joão, sou uma priveligiada por ter familiares médicos e, dado que estou em medicina, solicitei a um deles, que é cirurgião para ir assistir a uma cirurgia. ele deixou. pontualmente, la estava eu as 9 na porta do bloco operatorio. e a cirurgia começou de imediato. o que muitos não sabem é que são precisos pelo menos 6 pessoas para fazerem 1 bloco funcionar: o cirurgiao, o ajudante, o anestesista, o enfermeiro instrumentista, uma enfermeira que auxilie e a enfermeira que trata da monitorização da anestesia. e todos, repito, TODOS têm de estar na sala de operações porque todos têm uma função e não, não estão a falar da morte da bezerra, que eu bem vi o que é preciso para realizar uma cirurgia com sucesso em portugal. são esses médicos (tão maus, tão gananciosos... ai... os médicos!) que não compreendem como é que um governo que está na miséria permite que instrumentos que custam a módica quantia de 70 contos não são esterilizados e é dada ordem para que sejam descartados... pois é... mas eu estou a falar dos médicos do SNS, que, de facto, se tiverem de picar o ponto não dão tanto tempo nem atenção aos doentes... (é verdade... perdi-me da minha odisseia)... às 11 e 30 está a primeira cirurgia acabada e vamos para a segunda que, entre burocracias e anestesias, começa as12. resumindo, a equipa almoçou as 5. e as 6, nova cirurgia que termina as 9 e 30. pois é, ponham toda a gente a picar o ponto, entra-se as 9 e sai-se as 6 e os médicos agradecem. porque nem sequer recebem horas extraordinarias. pois é... e essa estatistica deve ser como tantas outras... outro familiar, por sua vez endocrinologista, é 1 dos 2 de um certo hospital. o outro nao faz bancos. este unico atende um perimetro que compreende alto e baixo alentejo. exacto. há muito pouca gente com diabetes e/ou hipo/hipertiroidismo no alentejo. sao so quase todos. mostrem-lhe as estatisticas. prometo que ela morde. para terminar, e uma vez que tenho de ir estudar, porque serei uma execravel medica, que passa a vida a estudar para no futuro ser o alvo da revolta de toda a gente... é uma pena que todos os reivindicativos se estejam borrifando para a situação dos professores que, essa sim, é vergonhosa e merecia que acordássemos desta letargia... mas não... os medicos que nao tem consultorios (e... olha, se nao lhes pagassem tanto, tvz os consultorios nao praticassem preços altissimos)agradecem a solidariedade e vao continuar a trabalhar quase o dobro do que trabalham os medicos ingleses com metade dos meios.
 
Antes de mais, peço desculpa por não te ter incluído na lista dos futuros médicos com quem conto para mudarem este país, mas na altura não me lembrei de ti. Peço desculpa. Considera-te adicionada à lista (e estarás, assim que acabar este comentário).
Esses casos que tu conheces são muito particulares. Não me atrevo a dizer "raros", fico-me apenas por "particulares". As pessoas não se queixam em vão...
Mas, já que contaste as tuas vivências, vou eu contar as minhas.
Histórias banais... Há uns dois ou três anos a minha mãe teve uma doença que ninguém chegou a saber explicar. Teve várias consultas marcadas no hospital, onde passou várias horas à espera numa zona tão saudável quanto a sala de espera do bloco de infecto-contagiosas. Estive com ela, uma vez, e a minha mãe tinha uma consulta para o início da manhã. Estavamos lá antes da hora. O médico chegou HORAS depois, de jornal debaixo do braço, num passo lento enquanto conversava com um colega.
Outra história banal: lembro-me de uma consulta de clínica geral que tive marcada para as 9h00 da manhã. Tinha um teste às 10h45. Pensei que dava tempo. O médico chegou às 11h00, capacete debaixo do braço, com o seu feliz ar de motoqueiro.
Uma história nada banal. Ou, se calhar, infelizmente, bastante banal até... A minha avó tem 73 anos. Há cerca de 12 ou 13 anos, não me recordo bem, teve um AVC. No hospital, a minha avó demorou várias horas para ser atendida. A justificação: não apresentava quaisquer sinais exteriores. Por isso fizeram passar à frente da minha avó pessoas com dedos, braços partidos, nódoas negras, e tudo o que fossem "sinais exteriores". A minha avó ficou sentada numa cadeira de rodas, sem responder a qualquer estímulo, com a cabeça descaída e o queixo torcido porque "não apresentava sinais exteriores". Durante as horas que ficou sentada, o sangue que tinha saído da artéria que rebentou na cabeça da minha avó começou a ferir o cérebro. O cérebro "mirrou", e o espaço entre o cérebro e o crânio aumentou. (Não sei os nomes técnicos, digam-me vocês...) Desde então, devido a isso, sofreu vários acidentes isquémicos e foi perdendo capacidades, e isso nota-se sobretudo ao nível da memória.
Hoje, essas pessoas com dedos partidos e braços partidos continuam, muito possivelmente, a levar uma vida normal. Se tivessem sido atendidas 30 minutos mais tarde, hoje estariam na mesma. Se tivessem sido atendidas 3 horas mais tarde, também.
Porque o sangue no cérebro da minha avó não foi drenado a tempo, hoje a minha avó não me conhece. Há alturas em que sabe quem eu sou, noutras alturas não faz a mais pálida ideia. Recusa-se a deitar-se na cama ao lado do meu avô e vai deitar-se com a minha mãe porque "está ali um velhote na minha cama... mas eu não o conheço! já fui casada com ele, acho que ele é o teu pai...", e noutras alturas levanta-se da mesa onde estamos a almoçar e vai passear para a rua. Quando o meu avô lhe pergunta o que se passa, ela responde, sobre a minha mãe, "quem é aquela senhora ali à mesa?". Não sei se isto lhe custa ou não, talvez não se lembre... A nós, a toda a família, custa-nos muito ver assim a minha avó.
Acredito que os teus familiares sejam médicos exemplares e rigorosos no cumprimento do seu dever, como muitos outros que também existem, com certeza. O problema é que há muitos outros que são uns grandessíssimos filhos da puta que não põem os pés no hospital porque aquilo está garantido, por isso vamos é dar consultas no privado, que isso é que me faz ganhar à grande. É graças a essas pessoas que a minha avó está no estado em que está e muitas outras pessoas estão, possivelmente, bastante piores.
P.S. - Passar o dedo numa máquina à entrada e outra vez à saída demora assim tanto tempo? Quer-me parecer que os interesses são, na verdade, outros...
 
O que me irritou ao longo destes dois anos, 28 meses para ser mais precisa, foi o facto de os médicos não serem humildes. E de não estudarem depois de concluírem o curso ou, pelo menos, de não serem curiosos.
Se ao menos eles não fossem pontuais porque ficaram a estudar melhor os casos dos seus pacientes, enfim...
Mas tudo bem, se não têm tempo para estudar também não têm tempo para passar a "manápula" pelo identificador. É que muitos (não estou a dizer todos)têm de segurar na carteira com as duas mãos.
Ainda hoje não sei se o que tenho é um cancro ou não...
 
Um pequeno post scriptum ao meu comentário anterior... Não sei se viram a reportagem que acaba de passar na TVI (3 de janeiro) - esse canal estupidamente sensacionalista, uma versão televisiva do 24 horas, que, ainda assim, não deixa de mostrar as verdades - em que uma senhora estava nas urgências do Sta. Maria com um AVC há 7 horas. Sem ser atendida, porque não havia médicos. A filha dessa senhora, que estava com ela, telefonou para a TVI, pediu uma reportagem, eles foram às urgências, fizeram a reportagem e 10 minutos após a reportagem passar na televisão a senhora foi atendida e abriram 5 gabinetes médicos. Será coincidência que todos os médicos tenham chegado àquela hora, exactamente após a reportagem? Não me parece... Cá para mim estavam era sentados a beber umas jolas e a ver o telejornal da TVI e... Ooops!! Isto é connosco...
Para escurecer ainda mais o negro cenário, o ministro, a propósito desta reportagem (onde a filha da senhora que sofreu um AVC dizia que o ministro não sabia do que falava quando dizia que tudo estava bem nos hospitais portugueses...), numa conferência de imprensa onde estava a TVI, boicotou propositadamente este canal de televisão, cortando o som aos seus microfones, como "resposta" a terem exibido a entrevista. Entre o Salazar e isto, venha o diabo e escolha. Meus amigos, é que é MESMO hora de tocar a reunir...
 
deixa-me esclarecer-te que as coisas não são bem assim como descreves e as generalizações magoam muito boa gente sabes.
ao contrário do que dizes, o estado tem vindo a reduzir drasticamente os ordenados dos médicos que para tua informação ficam a trabalhar depois da hora marcada porque os doentes não ficam sãos, de repente, ás 13h.
talvez tenhas a ideia que alguns medicos se ausentam do hospital para ir para o seu consultorio, mas esses são a minoria.
os iniciantes, como eu, fartam-se de trabalhar.
e o nosso ordenado base é igual ao de uma administrativa da funçao publica.
e em vez d ficarmos sentados em cadeiras, fazemos urgencias internas e bancos de 24h.
talvez te devesses informar melhor.
 
Os médicos são provavelmente a elite socio-profissional portuguesa mais arrogante e mesquinha de todas...
Agem como se os doentes tivessem de se sentir gratos para com eles, quando eles estão simplesmente a fazer o seu trabalho, pelo qual ganham do bom e do bonito.
 
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