Este Blog foi um programa de rádio The Steadfast Tin Soldier: Jornada de África

terça-feira, dezembro 12, 2006

 

Jornada de África

Dois excertos de um livro que me parece ser muito bom (pelo que eu li até agora...), para aguçar o apetite às diferentes pessoas que gostam de diferentes coisas, incluindo diferentes estilos literários e diferentes linguagens. Quem disse que não se pode agradar a Gregos e Troianos? Este livro parece fazê-lo... muito Alegremente! ;)


"Para Angola e em força. As mães redobram de actividade em suas lidas, preparam roupas, malas e compotas, à noite choram. Os pais sentam-se calados olhando para dentro. Se apanham os filhos distraídos demoram neles o olhar aflito, carne da sua carne, quem sabe se para canhão. E de repente ficam velhos.
Nos cais de Lisboa as mulheres gritam, arrepelam os cabelos, algumas enrolam os filhos nos seus xailes, se pudessem escondiam-nos ao colo, outra vez pequeninos e só delas. Os pais passam em silêncio os dedos pelas fardas, não conseguem quebrar o pudor masculino do gesto e da palavra, mesmo que lhes apeteça agarrar nos filhos e protegê-los com seus braços.
Tempo de lenços a acenar, xailes negros, lágrimas, rugas, ó mar salgado, quanto do teu sal. Vão-se os navios pela barra fora, Lisboa tem suas barcas, lá mais para diante, na praia do Restelo, continua um velho de aspecto venerando, meneando três vezes a cabeça descontente, ó glória de mandar, ó vã cobiça."


"Agora vou contar a daquele que se sentou no café e mandou vir o graxa, que era um puto muito conhecido, chamavam-lhe o Mais Cinco, era o que ele pedia sempre depois de lhe pagarem, dê mais cinco patrãozinho. Vai ele e estende a mão para receber, o outro puxa da pistola e diz-lhe: Desculpa lá, ó Mais Cinco, não tenho troco. E zás, ferra-lhe um estoiro nos miolos, mesmo à queima-roupa. Parece que a UPA lhe tinha serrado a mulher e o filho numa fazenda da Beira Baixa. Andava por aí de cabeça perdida, aviou uma data deles, até que a tropa acabou por lhe deitar a mão. Ainda vi alguns assim. Andavam de barba crescida e tinham os olhos inchados. As mulheres então ainda pior, eram elas que atiçavam os homens, aluadas de todo, o meu alferes nem queira saber, parece que os acontecimentos lhes puseram a rata aos saltos. No Norte nem se fala. Os turras da UPA não pouparam ninguém. Mulheres e crianças mortas à catanada, facas cravadas na cona das mulheres, cabeças de brancos cortadas com os caralhos metidos na boca. Se não fosse a vinda da tropa não sei o que seria."

Comments:
Upa, upa... e o pior é que dito desta maneira ou de outra, é tudo verdade. Ainda me lembro de umas fotos que vi, tinha eu seis anos, do tempo da guerra colonial, de mulheres... mortas com muita crueldade. Porque as mataram? E, já agora, não "bastava" matá-las?
A realidade ultrapassa a ficção.
 
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