Sou bastante nostálgico. Acho que é algo relativamente normal... No entanto, sinto-me um bicho estranho por uma razão muito simples: tenho saudades de um tempo que não vivi. Tenho saudades do tempo em que havia verde espalhado por Lisboa, em que as pessoas andavam de eléctrico e se dava milho aos pombos no Rossio. Tenho saudades do tempo em que se escreviam cartas com uma caneta de aparo e se fechavam os sobrescritos com lacre. E é sobre isso que gostava de escrever hoje. Tenho, ultimamente, passado por algumas papelarias de centros comerciais e fico uns minutos a observar a montra. Fixo o olhar nalguns elegantes conjuntos de canetas de aparo, tinteiros e folhas de papel bonitas, envelopes de ar importante. Como se viessem de um tempo em que já não estamos. E penso que gostava de escrever numa folha assim. Gostava de ter a minha escrivaninha com uma gaveta em que tivesse folhas e envelopes. Pego na caneta de aparo, molho o bico no tinteiro e escrevo... Com ares de pessoa importante, de pessoa culta, fina, erudita, com ares de pessoa que escreve com canetas de aparo em bonitas folhas de papel. Uma carta... E depois passo com um mata-borrão, absorve a folha a tinta em excesso e evitam-se assim os borrões feios na bonita folha de papel. Dobro com cuidado, coloco dentro de um sobrescrito amarelado, quase como que envelhecido, e fecho o envelope. Derreto o lacre na junção das abas e... PAM! Imprimo o selo no lacre com um movimento firme e austero, marca que fica até se abrir a correspondência, ou que se corte o envelope pelo topo para preservar a beleza do selo. Até que me decida a gastar algum dinheiro para comprar um conjunto destes que, provavelmente, ficará quieto na minha escrivaninha durante meses a fio, ficarei por agora com os meus Moleskine e a minha BIC fielmente guardados na mesinha de cabeceira, para aquelas noites em que não tenho como adormecer senão escrevendo.
# pintado por JoaoPedro @ 00:13