quarta-feira, fevereiro 15, 2006
Viva Portugal!
Fui parar às urgências do St. Maria, mas recuperei do susto.
Ontem fui ao médico. Acreditem, fiz um esforço muito grande para não me rir com todas as situações cómicas que por lá vi... Era o segurança com uma pança de metro e meio e com a unha a tirar a cera dos ouvidos e limpar à camisa ao mesmo tempo que assobiava uma música desconhecida que depois interrompia para chamar aos gritos "OH ISABEL, FILHA, VEM CÁ QUE A SHÔDOTÔRA PRECISA DE MAIS VINHETAS!!!", ao que aparecia uma mulher dos seus 50 anos a mascar pastilha elástica, cuspia a pastilha para um caixote do lixo (em relação a isto, os meus parabéns: a mais de 2 metros e acertou no caixote! Valha-nos ao menos isso...) e com um ar tresloucado abria um armário de onde tirava um caixote de cartão que atirava para dentro de um consultório, indo de seguida, e sem razão aparente para o fazer, dar umas "palmadinhas" nas costas do segurança e gritar bem alto para que até do outro lado da cidade se ouvisse "AH GRANDA MÉNE!!!!!" (méne = "man"...)
Ainda fiquei 1 hora e meia à espera, e pude presenciar outros episódios do género, como por exemplo uma rapariga com umas calças cor de rosa choque 4 tamanhos abaixo, um top que parecia comprado na secção infantil e que albergava algo cujo volume não podia DE TODO comportar, umas botas com salto agulha e umas argolas de diâmetro igual ou superior ao da cabeça penduradas nas orelhas que se estava a atirar descaradamente a um médico alto, moreno, brasileiro, mas cujos tiques não deixavam margem para dúvidas quanto à sua opção sexual (só para o caso de alguém estar a pensar nisto: eu NÃO SOU preconceituoso quanto a este tipo de orientações sexuais... é claro que se me vierem falar de cavalos, ovelhas, gatos e crianças de 8 meses, aí o caso muda de figura...).
Passada essa hora e meia fui parar à porta do gabinete 9 do qual, passados uns minutos, saiu um médico dos seus 50 e tais com uma mala, deu o braço a uma rapariga de 20 e poucos e disse-me "é só um momentinho que eu já volto...". Eu até achei estranho ele ter saído vestido, com a pasta, e ter fechado a porta à chave. Mas foi na minha inocência que fiquei à espera durante 45 minutos até me convencer que sim, ele tinha mesmo ido embora. Fui para outro gabinete onde fui atendido muito apressadamente (possivelmente porque se aproximava a hora de jantar...) e onde uma médica me disse, para meu espanto, que o facto de eu ter 38,5º de febre há 3 dias, dores no corpo, tonturas, quase não me conseguir levantar da cama com dores de cabeça e arrepios é "uma simples constipaçãozita, isto passa num instante..."
Pedi um atestado para a escola, e disse-me "ah, agora não lho posso passar que tenho muita gente à espera de consulta... peça lá fora que eles dão-lhe..." e foi o que fiz. No balcão de atendimento a senhora foi realmente MUITO bem educada (*coff*coff*) quando me informou que só podia passar uma justificação do tempo que eu tinha estado lá na consulta, de resto azar...
Caramba, isto é que são razões para se ter orgulho no "peito ilustre lusitano", hein? ;)
Benvindos a Portugal! =)
segunda-feira, fevereiro 13, 2006
My funny valentine
My funny valentine
Cheguei a casa há pouco e amanhã
celebrarei contigo pla primeira vez
esse dia que alguém convencionou
ser para os namorados: eu e tu,
dois seres quase sonâmbulos,
afogados em histórias mal cicatrizadas
que extravasam ao longo de conversas
plas estradas nocturnas por onde fugimos
da vida que nos dói: velhos amores
refulgindo na tua memória,
na minha fantasia que os volta a viver
em ti, por ti, como se também eu
ressentisse na pele o sabor desses beijos
esvaindo-se no tempo, que lhes toca
ao de leve, com lábios de veludo,
e os arrasta num caudal de espectros,
de vagas silhuetas, na penumbra
que foi a minha vida até chegar a ti.
Pareces tão real, ainda mais real
que as ondas desse mar sempre tão cúmplice
durante as poucas horas absorvidas
entre um bar sem ninguém e o silêncio
dentro do carro, ali onde abrigámos
a nossa mágoa, a sós, fora do mundo,
e o peso gelado de um remorso
até explodir, baixinho, sob um véu de lágrimas
nos teus e nos meus olhos. Não adianta,
a vida sabe sempre acontecer
quando menos esperamos, em segredo,
e eu regresso a ti, num arrepio sem glória,
mas tão preso ao destino que nos coube,
à música do cosmos antes de nascer,
enquanto alguém dedilha num piano
os acordes febris que estilhaçam a noite
e escorrem pouco a pouco dos meus lábios
como a baba de um anjo alucinado
que só por tua causa enfim reconhecesse
o rosto mais fiel do paraíso.
Estou mais tranquilo, agora, sei que dormes
algures nesta cidade venenosa:
consigo mesmo ouvir daqui a tua
respiração submersa,
tão perto de outro corpo e já tão dentro
da minha alma. O sol nasceu,
a casa está vazia e amanhã
é dia dos namorados.
-Fernando Pinto do Amaral