Este Blog foi um programa de rádio The Steadfast Tin Soldier: abril 2007

quarta-feira, abril 25, 2007

 

As Portas que Abril Abriu

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Era uma vez um país
onde entre o mar e a guerra
vivia o mais infeliz
dos povos à beira-terra.
Onde entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo se debruçava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza.

Era uma vez um país
onde o pão era contado
onde quem tinha a raiz
tinha o fruto arrecadado
onde quem tinha o dinheiro
tinha o operário algemado
onde suava o ceifeiro
que dormia com o gado
onde tossia o mineiro
em Aljustrel ajustado
onde morria primeiro
quem nascia desgraçado.

Era uma vez um país
de tal maneira explorado
pelos consórcios fabris
pelo mando acumulado
pelas ideias nazis
pelo dinheiro estragado
pelo dobrar da cerviz
pelo trabalho amarrado
que até hoje já se diz
que nos tempos do passado
se chamava esse país
Portugal suicidado.

Ali nas vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
vivia um povo tão pobre
que partia para a guerra
para encher quem estava podre
de comer a sua terra.

Um povo que era levado
para Angola nos porões
um povo que era tratado
como a arma dos patrões
um povo que era obrigado
a matar por suas mãos
sem saber que um bom soldado
nunca fere os seus irmãos.

Ora passou-se porém
que dentro de um povo escravo
alguém que lhe queria bem
um dia plantou um cravo.

Era a semente da esperança
feita de força e vontade
era ainda uma criança
mas já era a liberdade.

Era já uma promessa
era a força da razão
do coração à cabeça
da cabeça ao coração.
Quem o fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.

Esses que tinham lutado
a defender um irmão
esses que tinham passado
o horror da solidão
esses que tinham jurado
sobre uma côdea de pão
ver o povo libertado
do terror da opressão.

Não tinham armas é certo
mas tinham toda a razão
quando um homem morre perto
tem de haver distanciação

uma pistola guardada
nas dobras da sua opção
uma bala disparada
contra a sua própria mão
e uma força perseguida
que na escolha do mais forte
faz com que a força da vida
seja maior do que a morte.

Quem o fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.

Posta a semente do cravo
começou a floração
do capitão ao soldado
do soldado ao capitão.

Foi então que o povo armado
percebeu qual a razão
porque o povo despojado
lhe punha as armas na mão.

Pois também ele humilhado
em sua própria grandeza
era soldado forçado
contra a pátria portuguesa.

Era preso e exilado
e no seu próprio país
muitas vezes estrangulado
pelos generais senis.

Capitão que não comanda
não pode ficar calado
é o povo que lhe manda
ser capitão revoltado
é o povo que lhe diz
que não ceda e não hesite
– pode nascer um país
do ventre duma chaimite.

Porque a força bem empregue
contra a posição contrária
nunca oprime nem persegue
– é força revolucionária!

Foi então que Abril abriu
as portas da claridade
e a nossa gente invadiu
a sua própria cidade.

Disse a primeira palavra
na madrugada serena
um poeta que cantava
o povo é quem mais ordena.

E então por vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
desceram homens sem medo
marujos soldados «páras»
que não queriam o degredo
dum povo que se separa.
E chegaram à cidade
onde os monstros se acoitavam
era a hora da verdade
para as hienas que mandavam
a hora da claridade
para os sóis que despontavam
e a hora da vontade
para os homens que lutavam.

Em idas vindas esperas
encontros esquinas e praças
não se pouparam as feras
arrancaram-se as mordaças
e o povo saiu à rua
com sete pedras na mão
e uma pedra de lua
no lugar do coração.

Dizia soldado amigo
meu camarada e irmão
este povo está contigo
nascemos do mesmo chão
trazemos a mesma chama
temos a mesma ração
dormimos na mesma cama
comendo do mesmo pão.
Camarada e meu amigo
soldadinho ou capitão
este povo está contigo
a malta dá-te razão.

Foi esta força sem tiros
de antes quebrar que torcer
esta ausência de suspiros
esta fúria de viver
este mar de vozes livres
sempre a crescer a crescer
que das espingardas fez livros
para aprendermos a ler
que dos canhões fez enxadas
para lavrarmos a terra
e das balas disparadas
apenas o fim da guerra.

Foi esta força viril
de antes quebrar que torcer
que em vinte e cinco de Abril
fez Portugal renascer.

E em Lisboa capital
dos novos mestres de Aviz
o povo de Portugal
deu o poder a quem quis.

Mesmo que tenha passado
às vezes por mãos estranhas
o poder que ali foi dado
saiu das nossas entranhas.
Saiu das vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
onde um povo se curvava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza.

E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe.
Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu.

Essas portas que em Caxias
se escancararam de vez
essas janelas vazias
que se encheram outra vez
e essas celas tão frias
tão cheias de sordidez
que espreitavam como espias
todo o povo português.

Agora que já floriu
a esperança na nossa terra
as portas que Abril abriu
nunca mais ninguém as cerra.

Contra tudo o que era velho
levantado como um punho
em Maio surgiu vermelho
o cravo do mês de Junho.

Quando o povo desfilou
nas ruas em procissão
de novo se processou
a própria revolução.

Mas eram olhos as balas
abraços punhais e lanças
enamoradas as alas
dos soldados e crianças.

E o grito que foi ouvido
tantas vezes repetido
dizia que o povo unido
jamais seria vencido.

Contra tudo o que era velho
levantado como um punho
em Maio surgiu vermelho
o cravo do mês de Junho.

E então operários mineiros
pescadores e ganhões
marçanos e carpinteiros
empregados dos balcões
mulheres a dias pedreiros
reformados sem pensões
dactilógrafos carteiros
e outras muitas profissões
souberam que o seu dinheiro
era presa dos patrões.

A seu lado também estavam
jornalistas que escreviam
actores que se desdobravam
cientistas que aprendiam
poetas que estrebuchavam
cantores que não se vendiam
mas enquanto estes lutavam
é certo que não sentiam
a fome com que apertavam
os cintos dos que os ouviam.

Porém cantar é ternura
escrever constrói liberdade
e não há coisa mais pura
do que dizer a verdade.

E uns e outros irmanados
na mesma luta de ideais
ambos sectores explorados
ficaram partes iguais.

Entanto não descansavam
entre pragas e perjúrios
agulhas que se espetavam
silêncios boatos murmúrios
risinhos que se calavam
palácios contra tugúrios
fortunas que levantavam
promessas de maus augúrios
os que em vida se enterravam
por serem falsos e espúrios
maiorais da minoria
que diziam silenciosa
e que em silêncio fazia
a coisa mais horrorosa:
minar como um sinapismo
e com ordenados régios
o alvor do socialismo
e o fim dos privilégios.

Foi então se bem vos lembro
que sucedeu a vindima
quando pisámos Setembro
a verdade veio acima.

E foi um mosto tão forte
que sabia tanto a Abril
que nem o medo da morte
nos fez voltar ao redil.

Ali ficámos de pé
juntos soldados e povo
para mostrarmos como é
que se faz um país novo.

Ali dissemos não passa!
E a reacção não passou.
Quem já viveu a desgraça
odeia a quem desgraçou.

Foi a força do Outono
mais forte que a Primavera
que trouxe os homens sem dono
de que o povo estava à espera.

Foi a força dos mineiros
pescadores e ganhões
operários e carpinteiros
empregados dos balcões
mulheres a dias pedreiros
reformados sem pensões
dactilógrafos carteiros
e outras muitas profissões
que deu o poder cimeiro
a quem não queria patrões.

Desde esse dia em que todos
nós repartimos o pão
é que acabaram os bodos
— cumpriu-se a revolução.

Porém em quintas vivendas
palácios e palacetes
os generais com prebendas
caciques e cacetetes
os que montavam cavalos
para caçarem veados
os que davam dois estalos
na cara dos empregados
os que tinham bons amigos
no consórcio dos sabões
e coçavam os umbigos
como quem coça os galões
os generais subalternos
que aceitavam os patrões
os generais inimigos
os generais garanhões
teciam teias de aranha
e eram mais camaleões
que a lombriga que se amanha
com os próprios cagalhões.
Com generais desta apanha
já não há revoluções.

Por isso o onze de Março
foi um baile de Tartufos
uma alternância de terços
entre ricaços e bufos.

E tivemos de pagar
com o sangue de um soldado
o preço de já não estar
Portugal suicidado.

Fugiram como cobardes
e para terras de Espanha
os que faziam alardes
dos combates em campanha.

E aqui ficaram de pé
capitães de pedra e cal
os homens que na Guiné
aprenderam Portugal.

Os tais homens que sentiram
que um animal racional
opõe àqueles que o firam
consciência nacional.

Os tais homens que souberam
fazer a revolução
porque na guerra entenderam
o que era a libertação.

Os que viram claramente
e com os cinco sentidos
morrer tanta tanta gente
que todos ficaram vivos.

Os tais homens feitos de aço
temperado com a tristeza
que envolveram num abraço
toda a história portuguesa.

Essa história tão bonita
e depois tão maltratada
por quem herdou a desdita
da história colonizada.

Dai ao povo o que é do povo
pois o mar não tem patrões.
– Não havia estado novo
nos poemas de Camões!

Havia sim a lonjura
e uma vela desfraldada
para levar a ternura
à distância imaginada.

Foi este lado da história
que os capitães descobriram
que ficará na memória
das naus que de Abril partiram

das naves que transportaram
o nosso abraço profundo
aos povos que agora deram
novos países ao mundo.

Por saberem como é
ficaram de pedra e cal
capitães que na Guiné
descobriram Portugal.

E em sua pátria fizeram
o que deviam fazer:
ao seu povo devolveram
o que o povo tinha a haver:
Bancos seguros petróleos
que ficarão a render
ao invés dos monopólios
para o trabalho crescer.
Guindastes portos navios
e outras coisas para erguer
antenas centrais e fios
dum país que vai nascer.

Mesmo que seja com frio
é preciso é aquecer
pensar que somos um rio
que vai dar onde quiser

pensar que somos um mar
que nunca mais tem fronteiras
e havemos de navegar
de muitíssimas maneiras.

No Minho com pés de linho
no Alentejo com pão
no Ribatejo com vinho
na Beira com requeijão
e trocando agora as voltas
ao vira da produção
no Alentejo bolotas
no Algarve maçapão
vindimas no Alto Douro
tomates em Azeitão
azeite da cor do ouro
que é verde ao pé do Fundão
e fica amarelo puro
nos campos do Baleizão.
Quando a terra for do povo
o povo deita-lhe a mão!

É isto a reforma agrária
em sua própria expressão:
a maneira mais primária
de que nós temos um quinhão
da semente proletária
da nossa revolução.

Quem a fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.

De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse
um menino que sorriu
uma porta que se abrisse
um fruto que se expandiu
um pão que se repartisse
um capitão que seguiu
o que a história lhe predisse
e entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo que levantava
sobre um rio de pobreza
a bandeira em que ondulava
a sua própria grandeza!
De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse
e só nos faltava agora
que este Abril não se cumprisse.
Só nos faltava que os cães
viessem ferrar o dente
na carne dos capitães
que se arriscaram na frente.

Na frente de todos nós
povo soberano e total
que ao mesmo tempo é a voz
e o braço de Portugal.

Ouvi banqueiros fascistas
agiotas do lazer
latifundiários machistas
balofos verbos de encher
e outras coisas em istas
que não cabe dizer aqui
que aos capitães progressistas
o povo deu o poder!
E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe!
Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu!

José Carlos Ary dos Santos
Lisboa, Julho-Agosto de 1975

sábado, abril 21, 2007

 

Ontem irritei-me por duas vezes

Ontem irritei-me por duas vezes.
Logo de manhã irritaram-me as velhotas que não fazem mais nada senão passear e as madames pseudo-finas que em casa comem de boca aberta ao mesmo tempo que falam de decoração e projectam pequenos pedaços de carne mastigada na direcção e sentido da projecção da voz e que escarafuncham o nariz em público quando estão distraídas. Irritaram-me esses dois tipos de pessoas que, em dias de aguaceiros, com chapéus de chuva cujo diâmetro é quase superior à minha altura e largas gabardinas, insistem em passar (de chapéu de chuva aberto) por baixo dos toldos. E uma pessoa que vá só de t-shirt porque não estava a chover quando saiu de casa - eu - tem que ir à chuva, porque essas pessoas não podem molhar o guarda-chuva. E ainda ficam extremamente ofendidas quando hesitamos em colocar a nossa cabeça descoberta do lado de fora dos toldos das lojas que tanto gostaríamos que nos abrigassem nesse momento.
À tarde irritou-me o facto de, estando eu a distribuir panfletos para uma manifestação pela defesa do ensino artístico em Portugal - a tentar fazer com que a ministra da (des)educação não feche as escolas de ensino vocacional -, um velhadas com ar de facho, em vez de dizer "Não, obrigado", recusando educadamente o panfleto, diz-me com um ar trocista "Olha lá, já viste o trabalho que eu ia ter a deitar isso para o lixo?". É claro que quem se mete nestas coisas sujeita-se a isto. Mas há pessoas a quem, realmente, falta uma boa dose de educação...

quinta-feira, abril 19, 2007

 

Porque, por vezes, todos precisamos de um abraço...

FREE HUGS em Lisboa!
Sábado, dia 21 de Abril, às 15h00, no Rossio.
Apareçam e abracem! =)

terça-feira, abril 17, 2007

 

Hoje, feito menino, chorei

Hoje, feito menino,
Chorei.

Eu, homem feito,
Hoje, feito menino,
Chorei.
Caíram-me as lágrimas no peito,
Rolaram sobre a camisa de um dia
E detiveram-se apenas na pedra fria,
Junto aos pés descalços pelo desalento
Porque não puderam cair mais fundo.
Hoje, homem feito menino,
Chorei.

Não jantei jantar de homem,
Não comi como adulto.
O estômago conheceu a noite
Com o leite e cereais que a mamã prepara
- Só que feito pelas minhas imperfeitas mãos de homem feito,
Porque a mamã não está aqui - ,
Mas com um toque pessoal:
O leite com lágrimas,
O doce dos cereais com o sal
Que hoje, feito menino,
Chorei.

Chorei a baba e o ranho dos bebés.
Chorei como um menino.
Entrei na noite e chorei.
Passou a noite e choro ainda.
Dói-me a garganta, estão secos os olhos,
Não falo, apenas gemo
Num choro miúdo e fino,
Um choro que choro agora,
Que chorei hoje, feito menino.

Pedro Mendonça


domingo, abril 15, 2007

 

Óculos de Sol

"Já arranjei muito bem tudo quanto convém p'ra praia levar...
O pente, o espelho, o baton e um creme muito bom p'ra me bronzear.
Tenho o meu rádio portátil e o bikini encarnado também está no meu rol...
E, como é bom de ver, não me podia esquecer dos meus óculos de sol..."

Estamos no ano 2007 da era Ray-Ban. Qualquer rapaz/rapariga que deseje ascender ao estatudo de "fashion" tem, obrigatoriamente, que preencher dois requisitos: primeiro, praticar surf. Ou bodyboard, o parente pobre do surf. Mas um destes dois; skimmy, windsurf, kitesurf e afins são para panelas, surf e body é que são bons... Segundo requisito, não menos importante: usar Ray-Ban. Não, não são uns óculos de sol quaisquer, nem sequer imitações compradas nos chineses, têm mesmo que ser Ray-Ban originais, modelo aviador. Este modelo foi largamente usado durante a 2ª Guerra Mundial pelos aviadores norte-americanos. Embora não fizesse parte do uniforme oficial, era um must para qualquer aviador que não quisesse ser encandeado pela luz do sol ou desejasse conquistar as belas nativas das ilhas do Pacífico. Hoje em dia voltam a estar na moda, especialmente na linha de Cascais.
Mas, afinal, porquê Ray-Ban e não qualquer outra marca? Porque são bonitos e, assim, nos fazem também parecer bonitos? Mas os óculos de sol são para nos fazerem parecer bonitos ou para protegerem os nossos olhos dos raios solares? Se fosse para nos fazerem parecer bonitos seriam "óculos de beleza", e não "óculos de sol". Mas são "óculos de sol", logo não são "óculos de beleza". Podem ser bonitos, mas essa não é a sua finalidade. Portanto, "de sol". Não "de beleza".
Eu, sinceramente, não acho grande piada a ter... Uh! Ah, e tal, óculos de marca... Desde que nos sintamos confortáveis com os óculos e estes cumpram a sua função, até podem ser comprados numa loja dos chineses! É claro que não têm de ser... Mas podem ser. Temos é que gostar deles. Eu gosto e sinto-me confortável nos meus óculos dos chineses. Tal como nos meus Ray-Ban. Ou nos meus Emporio Armani (o Emporio... Que é irmão do Giorgio =P private joke)... Agora... Marcas??? Naaahhh...


segunda-feira, abril 09, 2007

 

Outra parvoíce pegada

Depois de "Os Grandes Portugueses", surge agora com maior intensidade mediática a votação para a escolha das 7 maravilhas de Portugal. Outra parvoíce pegada, digo eu! Como se fosse possível eleger os 7 monumentos mais importantes... Bem, sempre terá mais lógica do que eleger um português melhor que todos os outros, mas mesmo assim falta-lhe uma boa dose de bom senso.
Não sei quais são os monumentos que estão em votação, nem me interessa! Mas, pelo andar da carruagem, até aposto que o que vai ficar em primeiro lugar é uma certa casinha em Santa Comba Dão...


domingo, abril 08, 2007

 

A melhor sensação do mundo (a primeira)...


 

A melhor sensação do mundo...

De 5ª a Sábado estive no Algarve. Ou será Allgarve? Não sei bem... Mas, a julgar pelos espanhóis que se passeiam de carro pelas ruas de Faro, eu diria Algarbe, com pronúncia espanhola... Bem, mas era para dizer isto: 6ª feira passada, 6 de Abril, foi a minha estreia com uma orquestra profissional. Estive, até este fim de semana, no Coro de Câmara do IGL como reforço para o naipe dos baixos, para um concerto com a Missa da Coroação KV 317 (Mozart) - com a Orquestra Sinfónica Juvenil - e dois concertos com o Requiem de Domingos Bomtempo, em conjunto com a Orquestra Metropolitana de Lisboa. O primeiro, na 6ª feira, foi em Faro. O segundo foi ontem (Sábado), na Aula Magna.
Em relação à qualidade da OML, não me posso pronunciar porque corro o risco de dizer alguma baboseira que não corresponde à realidade, dada a minha inexperiência no trabalho com orquestras e a minha total incapacidade de definir se tocou bem ou muito bem. Só sei que não tocou mal ;-) Mas qualquer falha da orquestra era perfeitamente compensada, a meu ver, pela majestosa presença em palco do maestro Álvaro Cassuto, "um velhote cheio de estilo", como alguém diria, embora "não tenha rabo nenhum" e pareça "um grilo". A forma como o maestro explicou a interpretação pretendida para algumas passagens durante os ensaios soou-me bastante próxima, achei incrível a capacidade de transmitir ao coro exactamente o que queria usando palavras que parecem tão vagas e sem sentido na interpretação de um Requiem do início do séc. XIX como "sexy" e "íntimo".
Aproveito para deixar uma informação que, possivelmente, poucos saberão: embora o Requiem tenha escrito na capa "à memória de Camões", na verdade foi escrito em homenagem ao General Gomes Freire de Andrade, que foi enforcado no forte de São Julião da Barra. Como seria extremamente arriscado dedicar uma obra desta magnitude a um liberal recém-enforcado como Gomes Freire - o que lhe poderia até custar a vida -, Bomtempo preferiu dedicá-la "oficialmente" a Camões. Por curiosidade: esta informação chegou-me através do meu professor de geometria, Prof. Paulo Almeida, e verifiquei-a no site do Conservatório Nacional.
Mas quero finalizar este post partilhando com todos os que o lêem uma sensação que eu acho indescritível, e como tal não vou descrever o que senti mas sim a situação: no final, tendo um dos maiores maestros da actualidade e uma orquestra profissional à nossa frente, as pessoas levantam-se e batem palmas. E as lágrimas insistem em vir-nos aos olhos. Orgulho do que acabámos de fazer - orgulho na música. É, sem dúvida, a segunda melhor sensação do mundo...

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