Este Blog foi um programa de rádio The Steadfast Tin Soldier: setembro 2006

sábado, setembro 23, 2006

 

Deixei de ser boa pessoa

As boas pessoas (ou as pessoas que tentam ser boas pessoas) não têm futuro. O que está a dar é ser mau, corrupto e totalmente desprovido de escrúpulos.
Um exemplo.
Ontem à noite fui à Fnac.
Quando estava a passar por uma prateleira de DVD's, o homem que ia à minha frente deu um encontrão nas caixas e caíram algumas. O homem que as deitou ao chão agachou-se para as apanhar. Por impulso, baixei-me também e comecei a apanhá-las para as colocar de novo no lugar. Mas, quando o homem viu que eu as estava a apanhar, levantou-se, virou as costas e foi-se embora. Continuei a apanhar as caixas, voltei a pô-las nos sítio onde estavam e vim-me embora.
Pela última vez na minha vida ajudei alguém que não conhecia.
Desde ontem à noite deixei de ser boa pessoa.

quarta-feira, setembro 20, 2006

 

Ecos de uma Lisboa que amanhece

De manhã, ainda nem são 6h00, sente-se o cheiro do Tejo a inundar as ruas da baixa. O Terreiro do Paço ainda não tem movimento, uma ou duas pessoas que passam rapidamente. Passa apressado um velho lobo do mar, ou do Tejo, a caminho do seu velho cacilheiro, dedicado companheiro, que envelhece com ele a cada dia que passa. Lá em cima, no Rossio, levantam-se da entrada do D. Maria II homens cuja casa já não recordam, e dobram os cartões como quem faz a cama, sempre com grande aprumo e cuidado no arrumar daquela sua miséria. É miséria, sim, mas pelo menos é sua...
Na Graça acordam alguns homens que saem para mais um dia de trabalho e que voltarão à noite, também hoje não fizeram a barba. De Santos chega meia-dúzia de rapazes e duas ou três raparigas com eles, agora de ar cheias as garrafas que trazem na mão, que vão dormir mais um dia de férias. Também eles voltarão à noite... Em Alfama, numa casa de paredes amarelas, a mulher já acordou, foi comprar o pão e tem agora o pequeno almoço pronto para os putos.
O sol do meio da manhã já brilha na Rua do Ouro, jovens passeiam, senhoras fazem compras, fatos e gravatas com homens lá dentro andam de um lado para o outro, pretas pastas de couro a pender das mangas.
Ao metro do Cais do Sodré chegou mais uma carruagem com um rapazinho de acordeão ao peito a cantar a Floribela, sou rico em sonhos mas pobre em ouro, e no comboio partiram mais uns quantos jovens de Ray-Ban na cara e cabelos dourados, pranchas debaixo do braço, quase identicos uns aos outros e confundir-se-iam até não fosse um deles calçar o 45 e ser vinte centímetros mais alto que o do lado, porque os traços do rosto tornaram-se semelhantes de uns para os outros, até o ligeiro ataque de acne (que agora está na moda) lhes coloca as borbulhas nos mesmos sítios.
Hora de almoço e no Areeiro saem dos edifícios as pessoas que por lá trabalham e que vão ali perto comer bem e barato num restaurantezinho de existência ignorada por muitos.
Um pouco depois começam a entrar nos autocarros os rapazes e raparigas que acabaram por hoje a escola e vão para casa divertir-se. E estudar, que de vez em quando também é preciso...
No jardim em frente à praça de Benfica encontram-se alguns jovens com mais de 65 para jogar à malha, às damas e para uma suecada à sombra das árvores que cortam o quente das três da tarde. Mais tarde voltam para casa e ao mesmo tempo saem do trabalho os senhores e senhoras do Areeiro, ficam ainda a trabalhar os homens da Graça.
À noite encontram-se turistas espalhados um pouco por toda a baixa, a deliciarem-se com um suculento roubo à casa acompanhado de uns preços exorbitantes com molho de Caistequenemumpatinho... Ui, é daqui! ("Ohh... It's from here!")
Aproxima-se a meia noite e os homens da Graça voltam para de onde vieram hoje de madrugada. Assim fazem os jovens com duas ou três raparigas, hoje já são outras, também loiras e de pele branquinha, carne suculenta de camone que anseia por experiências lisboetas. Não serão diferentes das do país delas. Se forem, será para pior. Já a garrafa de vodka na mão e continuam o seu passeio alumiados por Luzboa.
Entra a passo a madrugada e camiões verdes passam ruidosos, pirilampos amarelos doidos de tanto girar, fica o cheiro a marcar-lhes o rasto. Sorte a nossa que, a estas horas, poucos narizes estão lá para o cheirar. A noite segue: quieta nalguns lugares, noutros mais agitada do que de dia.
E no dia seguinte volta o cheiro a Tejo e a claridade da manhã que chega a esta cidade a ponto luz bordada... Cidade, mulher da minha vida.

sexta-feira, setembro 15, 2006

 

18A MACHO LATINO PIANISTA DE SUCESSO CONVIVE COM SENHORAS DOS 14 AOS 35

Em conversa com um notável músico e eminente organista lembrei-me de um assunto sobre o qual seria interessante escrever neste antro de pecaminosas leituras: os anúncios de convívio íntimo nos jornais. No Diário de Notícias (era o jornal que estava mais à mão) estão camuflados sob o inocente título de Relax, secção essa que li atentamente (algo que me custou bastante, devo dizer...) de forma a adquirir conhecimentos suficientes para escrever este post.
Antes de mais, é importante salientar um aspecto: não existem, nesta profissão, brasileiras de 18 anos "morenas", de "olhos verdes", "carinha linda", com um "corpinho escultural", "peitinho firme", "seios XXL" e "bumbum apertadinho" que façam "oral natural". A própria definição dos serviços prestados neste ramo excluem automaticamente os parâmetros "peitinho firme" e "bumbum apertadinho". E agora, por causa destas coisas da segurança no trabalho, acho que acabaram com o "oral natural"...
Também os termos "taradinha" e "meiga" costumam surgir juntos no mesmo anúncio, o que é, quanto a mim, um pouco paradoxal. Taradinha ok, sim senhor... Agora, meiga?? Meigos são os cachorrinhos...
E depois há os anúncios completamente estapafúrdios: "28A, morena, virgem, peludinha, convive com senhores de nível. Domicílio/hotel (...) "... Virgem aos 28, ainda por cima afirma-se "peludinha"? Se tivesse vergonha na cara, estava mas é quieta e ia ler a TVGuia ou ver o Goucha em vez de vir escarrapachar isto num jornal...
"Peludinha"? Ainda teria alguma lógica escrever "totalmente rapada" ou "rapada em forma de emblema do Benfica", agora... "peludinha"? Mas onde é que aterrou a nave desta rapariga? E o problema é que não é só um: são vários anúncios apregoando o mesmo produto!!! "Peludinhas" por todos os lados!!! É por estas coisas que se vê que estes anúncios foram concebidos para tarados sexuais... Também deve haver por aí alguns em que as protagonistas mencionem as suas habilidades com velas e bolas de ping-pong... Ou a sua obsessão doentia com BDSM! Há malucas para tudo...
Por fim, deixo-vos um anúncio que encontrei lá pelo meio e que me deixou com uma questão a martelar-me a cabeça...
Então... Dar uma queca e conduzir, podemos?

segunda-feira, setembro 11, 2006

 

As mensagens subliminares presentes na música pimba romântica

Em conversa com um notável músico e eminente flautista e pianista, desenvolvi uma teoria sobre as mensagens subliminares presentes na música pimba romântica, especialmente em Marco Paulo.
Vejam a música mais conhecida deste nosso cantor tão famoso nos programas da manhã e nos bailaricos de aldeia: "Eu tenho dois amores". Ora bem, este clássico da música nacional que se situa algures entre o pimba-Ágata e o pop-José-Cid contém subtis mensagens ocultas na letra e na coreografia que podem muito bem destruir as bases morais da nossa sociedade. Se não acreditam, vejam:
Começamos pelo título: "Eu tenho dois amores". Isto é claramente um hino à incapacidade de decisão entre uma vida heterossexual ou homossexual: opta-se pelo caminho pecaminoso e pela vida desregrada da bissexualidade. Esta indecisão é reforçada pela frases "Mas não tenho a certeza/ De qual eu gosto mais/ Mas não tenho a certeza.../ De qual eu gosto mais..."
Mais à frente aparece o seguinte:

"Uma é loira e acontece
Entre nós amor, ternura
Tão loira que até parece
O sol da minha loucura..."

Nesta referência a uma mulher, LOUCURA é a palavra-chave para a interpretação deste excerto. A noção de loucura num contexto sexual encontra-se associada a uma vida sexual sem respeito pelos limites moralmente estabelecidos.

"Mas a outra tão morena
É tal qual um homem quer
Porque embora mais pequena
Ela é muito mais mulher..."

É o que vem a seguir. "É tal qual um homem quer": tire-se-lhe o "quer" e fica "É tal qual um homem". "Ela é muito mais mulher", talvez se refira ao facto de o homem ser homossexual, pois apenas nessa condição poderia corresponder ao amor de outro homem. Assim ficamos a saber que este segundo excerto diz respeito à componente masculina da sua indecisão: o homem que lhe ocupa todo o pensamento. Ou, se calhar, apenas metade.

"Meu coração continua
Sem saber o que fazer
É melhor amar as duas
Sem uma doutra saber...

Que este encanto não se acabe
E eu já pensei tanta vez
Pois enquanto ninguém sabe
Somos felizes os três..."

É a devassidão total!!! Não obstante a indecisão quanto à sua opção sexual, o sujeito escolhe de facto uma vida bissexual em que é infiel tanto à sua parceira feminina como ao seu companheiro homossexual! Como nenhum sabe do outro, o homem é, do ponto de vista da mulher, heterossexual; do ponto de vista do seu companheiro, homossexual; e do ponto de vista de um observador externo e omnisciente, bissexual!
Quanto à coreografia, note-se a manobra quase malabar de mudar o microfone de mão, fazendo-o saltar da direita para a esquerda para a direita para a esquerda... O artista está claramente a simular o acto de segurar num pénis aquando do sexo oral, e muda de mão para transmitir a ideia de que tem vários parceiros sexuais masculinos a quem pratica felação, vulgo broche. Mais uma vez, um facto a comprovar a imoralidade da música pimba, perniciosamente apelidada por alguns de "popular", embora nada tenha de benéfico para a mentalidade do povo.
Um último ponto, também relativo à coreografia: o gesto de tocar com a mão no coração e fechar ligeiramente os olhos. A intenção do fechar dos olhos é fingir uma sensação de prazer, induzindo as mentes mais incautas a pensarem num orgasmo. Aqueles que cederem à artimanha dos olhos, estarão também à mercê do truque da mão no coração, que simboliza o amor, o salutar, o que é bom, e tenta passar a mensagem de que a bissexualidade e a promiscuidade nas relações sexuais é algo de positivo.
Mas não é.
É bom, pois é, mas de positivo é que não tem nada!


 

Por favor, sakem músicas dos D'ZRT!


sábado, setembro 09, 2006

 

Socorro! Os meus pais lêem o meu blog!

Socorro! Os meus pais lêem o meu blog!
Podia ser só um deles e não me dizer nada para não me envergonhar... Mas não: são os dois! Estou em pânico!
Uma frase que tenho repetido constantemente nos últimos tempos e que aqui ganha um novo significado: Ai jasus, 'tou desgraçado...
Hoje cheguei ao computador e vi a minha mãe com a página aberta no meu blog. Iam-me caindo os olhos e os meus braços deixaram de ser irrigados por sangue, tanto que ficaram estendidos ao longo do corpo como se se tratassem de apêndices de tecidos mortos pendendo do tronco. A minha coluna tornou-se subitamente mole e o meu maxilar pesado: inclinei-me para a frente de queixo descaído. Cresceram-me pelos brancos na barba e o meu cabelo começou a cair ainda mais. Naquele momento perdi 5 anos de vida.
Este blog tem asneiras que os meus pais nunca ouviram murmuradas da minha boca, quanto mais imaginaram que eu as escrevia para outras pessoas as lerem! Este blog tem parte das coisas que nós nunca queremos que os nossos pais saibam! Este blog era meu! Meu, meu, meu e só meu (porque outras pessoas não aceitaram o convite para o partilharem comigo, mas isso é outra história =P ), e agora passou a ser sujeito à aprovação dos meus pais! Tal como a minha mãe me disse, quando saiu do computador, "Gostei muito de alguns posts...", da próxima vez vai dizer-me algo como "Não gostei daquelas asneirolas todas! Vai lá tirar aquilo, se fazes favor, que não foi para isto que te eduquei". E pior ainda: eu vi a minha mãe a ler um comentário escrito por mim em que aparecia "fdx", palavra que ela seleccionou com o rato, olhou para mim e não disse mais nada. Daqui se conclui que a minha mãe percebe internetês, e que já nada do que eu escreva está a salvo do lápis azul dos olhos castanhos da minha mãe!
Se a minha mãe sabe do meu blog, o meu pai também sabe. E a prova irrefutável disso é o comentário que me deixou algures num post (desafio-vos a encontrá-lo =P )...
O que é que eu devo fazer agora? Continuar a escrever normalmente e ignorar o facto de que a minha mãe lê os meus foda-se's bloguísticos? Continuar a dizer mal de deus e do arroz de peixe da minha mãe depois de saber que ela lê o meu blog?
Socorro! Os meus pais lêem o meu blog!
Ai jasus, 'tou mesmo desgraçado...

terça-feira, setembro 05, 2006

 

A melhor altura da minha vida

Se pudesse definir alguma altura da minha vida como a mais bonita e aquela que mais saudades me traz, essa altura seria decerto a minha infância. Sempre quis ter uma casa na árvore, uma piscina rodeada de relva, sempre quis poder fazer como os meninos dos filmes de sábado à tarde e poder ir passear com muitos amigos ao parque e ter um cão maior do que eu... Mas nunca tive nada disto. Tive, no entanto, muitas outras coisas que me deixaram feliz e que fizeram as delícias da minha infância. São objectos (porque, quando somos pequenos, só contam as coisas que podemos ver e tocar...) e situações que lembro com muita saudade...
Lembro-me das fisgas que o meu avô me construía às escondidas da minha avó, mas que invariavelmente acabavam escondidas atrás da porta da despensa porque achavam que eram muito perigosas e que me podia magoar.
Lembro-me de uma espingarda de madeira que o meu avô me fez, recortando uma tábua e pregando-lhe um prego na ponta para fazer de mira. Mais tarde atámos-lhe um cordel à frente e atrás e ele explicou-me que isso era a bandoleira e que assim podia levar a espingarda ao ombro nas intermináveis caçadas em que me levava num terreno por construir, ali perto, para "caçarmos lagartixas para o almoço", onde eu disparava balas sem fim, assinaladas apenas pelo "PUM!" que eu gritava com um sorriso no olhar, como quem diz "O almoço de hoje já cá canta..."
Lembro-me de uma cadeira de plástico azul, pequenina, onde eu me sentava no quintal a olhar para as flores.
Lembro-me da Tita, do Ó-ó e do Jonas, os meus três peluches favoritos. Lembro-me também de duas prateleiras amarelas, por cima da cabeceira da cama, onde tinha imensos peluches que a minha mãe atirava para cima de mim quando eu ia dormir, numa "chuva de bonecos", deixando-me a dormir submerso em peluches mas com um sorriso da mais pura felicidade estampado na cara.
Lembro-me do meu primeiro carro: um Toyota vermelho, a pedais, que era o meu meio de transporte no corredor do quintal, de trás para a frente, ao longo de 20 intermináveis metros habitados por lagartixas nos muros, flores nos canteiros e, dentro deles, bichinhos de conta e caracóis, e onde por algumas vezes levei o meu irmão sentado no capot.
Lembro-me de um regador vermelho, pequenino, que eu usava para ajudar a minha avó a regar as flores.
Lembro-me das histórias que o meu pai me contava, das proezas narradas à beira da cama em que ele salvava um menino que tinha caído num buraco do passeio. Uns anos depois, admitiu que parte dessas histórias não eram totalmente verdadeiras, mas eu entendi perfeitamente que tinham o objectivo de me alertar para alguns perigos. E funcionou: nunca caí num buraco do passeio...
Lembro-me de uma caixa amarela cheia de LEGOs que eu despejava em cima de um lençol, no chão do meu quarto, e passava horas (às vezes dias!) a inventar histórias com astronautas e cavaleiros medievais de 5 cm de altura feitos de plástico. Lembro-me de como era chato ter que arrumar aqueles LEGOs todos, no fim...
Lembro-me de um comboio que me ofereceram e que andava em círculo, e que eu aproveitei isso para construir uma cidade de LEGO e Playmobil no centro da pista.
Lembro-me de um teclado da Casio que me ofereceram no mesmo natal que o comboio. Lembro-me das etiquetas com o nome das notas e números de 1 a 7 para Dó a Si que a minha mãe colou nas teclas, e lembro-me de um caderninho com números que correspondiam às teclas, onde eu escrevi pela primeira vez música, sem ainda sequer saber o que é que aquelas teclas pretas estavam lá a fazer, porque só usava as brancas.
Lembro-me da minha mãe com uma t-shirt amarela do Tom&Jerry a cantar-me "Está na hora da caminha", e eu a chorar porque não queria que ela cantasse.
Lembro-me de como era pequenino e não tinha preocupações, e lembro-me como o mundo era tão bonito nessa altura. Lembro-me hoje, com saudades, da melhor altura da minha vida. E às vezes apetece-me voltar aos 5 anos e ficar para sempre pequenino...

domingo, setembro 03, 2006

 

Mais um dia...

Hoje acordei e tomei um duche com água quente. Sentei-me na sala a comer Corn Flakes (da Kellogg's e não de uma marca barata qualquer...), peguei no comando da televisão (Samsung, e não uma coisa qualquer da Worten...) e não reparei sequer que havia electricidade em casa, água e gás para poder tomar banho, que havia Corn Flakes na cozinha e leite no frigorífico. Para quê reparar nessas coisas? Está tudo tão garantido...
Hoje acordei e liguei a televisão. Trânsito fluido na ponte 25 de Abril (Olha, boa... é Domingo!), máximas de 20º para os Açores e Madeira, o não-sei-quantos está metido noutro escândalo futebolesco, o ministro trocou o seu Mercedes de dez mil contos por um de vinte e cinco mil porque o farol do lado direito estava fundido e até que já estava na altura de arranjar um carro novo, não sou eu quem paga, e logo a seguir seguiu no seu Mercedes novinho em folha para dentro de um edifício de onde saiu logo a seguir para, à frente das câmaras, afirmar com uma cara preocupada e nervosa que a economia não está a melhorar como o previsto, vamos ter que apertar o cinto... Até o primeiro-ministro aperta o cinto: um Louis Vuitton oferecido pelo seu homónimo francês na última visita de estado ao país da liberté, egalité e fraternité. Aperta o cinto, ajeitam-lhe a gravata (porque o PM tem pessoas para lhe ajeitarem a gravata, não o faz com as suas próprias mãos!) e sai de um outro edifício onde, à saída, diz para as câmaras com uma cara nervosa e preocupada que a economia não está a melhorar como o previsto, vamos ter que apertar o cinto...
Hoje houve mais 3 empresários que preencheram as declarações dos impostos afirmando o rendimento mínimo, e pediram o subsídio para os filhos poderem andar no S. João de Brito, e fizeram alguns cortes no pessoal na fábrica de Vila do Conde, porque isto anda mal para todos, e por trás enviaram as máquinas para a Estónia e compraram um novo Mercedes, ainda mais caro que o do ministro, e guardaram o velho Mercedes ainda com os faróis a funcionar e sem um risco para que, mais tarde, possam mostrá-lo aos netos e dizer este era o meu carro quando comecei a trabalhar, eram tempos difíceis...
Hoje elegeram para presidente da câmara mais um tipo que está envolvido em escândalos de futebol e de política e de negócios de prostituição e tráfico de droga e venda de armas e redes de pedofilia, mas isso é tudo mentira, são os lá de cima que estão contra o Coronel porque ele é amigo do povo, ele até vai à praça dar-nos panamás e chapéus de chuva, e à Cidália das hortaliças até lhe deu um avental com o nome dele!
Hoje, após mudar o cinto e lhe mudarem a gravata, o primeiro-ministro discursou em frente a uma plateia de braços atentos à espera da palavra com entoação de quem acabou o discurso para desatarem a bater palmas e disse que o plano tecnológico está a correr muito bem, no próximo ano os livros serão editados em CD-ROM, o que irá diminuir o preço. Quando confrontado com a percentagem de crianças sem acesso a um computador e o que irão fazer com os CD-livros, o primeiro-ministro esboça um sorriso e diz que está a discutir isso com o ministro da educação ao mesmo tempo que pensa numa resposta humorística que não pode dar porque é o primeiro-ministro: usem-nos como bases para copos!
Hoje, após mudar o cinto, a camisa, as calças e as cuecas porque se borrou a rir quando o primeiro-ministro lhe telefonou a contar a piada das bases para copos, o ministro das obras públicas discursou em frente a uma plateia de mães enraivecidas por os seus filhos com deficiências físicas não terem as condições necessárias a uma vida normal. Mas isso está a ser alterado, o meu gabinete já deu autorização para avançar com as obras necessárias para que a carreira de tiro do estádio nacional e todos os cinemas de Lisboa tenham instruções em braille e que todas as piscinas tenham acessos para cadeiras de rodas, disse o ministro às mães agora atónitas e incrédulas, os supermercados e os centros de saúde é que já é outra história, são muitos e isso implicaria gastos muito superiores ao orçamento previsto para este tipo de obras, e nós temos que apertar o cinto...
Mais um dia em Portugal...

sábado, setembro 02, 2006

 

De volta...

De volta. De volta a Lisboa, à música, ao estudo e ao blog.
De volta das férias. Férias que, diga-se de passagem, até nem foram nada de especial... Estive o tempo todo em casa da minha avó. Excepto 2ª e 3ª feira desta semana que passou: fui ao Porto.
Apanharam-me de surpresa no Domingo de manhã: "João... Amanhã queres ir ao Porto? Porto e arredores... ;) O que dizes?"... Claro que quero! Mas havia uma contrapartida: cortar a pêra... Ok, ok, eu corto a pêra... Já a cortei, cortei-a assim que voltei. Gosto de manter a minha palavra...
O objectivo principal (segundo os meus pais) era visitarmos a Casa da Música. Mas estava fechada para férias, só abria em Setembro, por isso nicles batatóides, não há nada para ninguém! Por isso contentei-me com um passeio em Espinho na 2ª à noite e uma voltinha de carro ao Porto na 3ª de manhã.
Ah! Mas fui ao Majestic! =P Como não sou muito de cafés cheios, bicas, cimbalinos, etc, limitei-me a comer o chocolate que vinha com o café dos meus pais.
Chocolate preto...

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Nota para a senhora sessentona residente no Fogueteiro que enviou um mail com fotografias em Julho passado: eu não sou grande adepto de cera derretida sobre os mamilos...